quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Resenha Orchid Álbum de Opeth 1995

 

Resenha

Orchid

Álbum de Opeth

1995

CD/LP

Quando o Opeth assinou com a Candelight Records, sequer tinham uma demo completa, pois na época até mesmo para gravar uma demo significaria um passo muito adiante e que eles não tinham condições de dar. Sim, a situação era tão precária que o máximo que eles conseguiram foi enviar fitas de ensaios para várias gravadoras, porém, nunca recebiam nenhuma resposta. Então, quando Lee Barrett, fundador da Candelight Records, fez uma oferta para a banda, Mikael achou tudo muito estranho na época. Acontece que Samoth (guitarrista da Emperor) havia mandado fitas de várias bandas para Barrett, sendo que nesse meio, tinha apenas alguns segundos de “The Apostle In Triumph”, porém, não precisou mais do que isso para que ele gostasse tanto do que ouviu que quis assinar um contrato com a banda imediatamente. Mais tarde, Mikael recebeu uma ligação de Barrett dizendo que queria lançar um disco completo da banda.  

Durante as gravações, apesar do nervosismo, todas as sessões correram muito bem, embora a banda tenha lamentado não ter tido tempo para a peça acústica “Requiem”. A música chegou a ser gravada pela primeira vez no Unisound, mas a banda acabou não gostando muito do resultado, foi então que a música foi regravada, agora em estúdio em Estocolmo – o disco havia sido gravado em Finspang. “Requiem” chegou até ser incluída no disco, mas não como uma música isolada, mas na introdução de The Apostle In Triumph, algo que desagradou a banda. Mas em versões de relançamento a música já aparece de forma isolada.  

Sem dúvida alguma, Orchild é uma de suas declarações musicais mais fortes. Do começo ao fim, o disco apresenta uma verdadeira tapeçaria de riffs bombásticos de guitarra unido a alguns interlúdios acústicos assombrosos, linhas de baixo e bateria proeminentes que entregam uma seção rítmica que soa sempre muito bem acentuada. Ao mesmo tempo em que Mikael canta e rosna como se fosse um monstro, ele também consegue entregar uma voz harmoniosa que combina perfeitamente com a musicalidade da banda. Imagine misturar elementos influenciados pela música progressiva com peças acústicas de influencias folk, gritos de black metal e rosnados do death metal e ainda assim conseguir criar um disco extremamente coerente, pois é, foi exatamente isso que o Opeth fez no seu disco de estreia. Além disso, há espaço até mesmo para linhas jazzísticas dentro das suas passagens instrumentais mais melódicas.  

Algo bastante interessante de se pensar ao ouvir Orchild, é o fato de que poucos discos são capazes de nos fazer redefinir basicamente por completo nossa visão sobre um estilo. Quando o disco foi lançado em 1995, muitas pessoas devem ter coçado a cabeça e pensado, “isso é muito bom, mas do que se trata realmente?”. É uma banda de metal? Sim, mas são tantas nuances que acaba deixando tudo meio que inclassificável. É mais ou menos como se a banda pegasse vários estilos de rock pesado, mais algumas ideias de sonoridade suaves e a moldasse à sua maneira, criando o que muitos acabaram definindo na época como um, “som único”.  

“In Mist She Was Standing”, com pouco mais de catorze minutos, o disco começa com a sua maior faixa. Inicia por meio de uma seção instrumental de dois minutos e que já define o clima do disco, com destaque para as guitarras gêmeas. Um rosnado mais suave interrompe a música que segue no mesmo ritmo antes de Mikael entrar agora em definitivo com o seu canto raivoso. Por volta dos 3:45 a peça ameniza a sua temperatura, então que um violão com alguns sussurros permeia a música por alguns segundos antes que tudo retorne a se desenvolver com muita agressividade. Em 5:15 tudo fica sereno, mas dessa vez por mais tempo, uma atmosfera sombria toma de conta da música. Então que a bateria e um ritmo lento vai direcionando a faixa, por enquanto por meio de uma guitarra suave e um baixo pulsante, depois com a guitarra distorcida antes de Mikael regressar com seu vocal rosnado. A banda entrega uma sonoridade trituradora antes de mergulhar em uma linha melódica que eu definiria como uma espécie de Iron Maiden com bastante distorção. A quantidade de vezes que essa música muda de andamento, ritmos e humores e mesmo assim se mantém coesa é impressionante. Um começo de disco avassalador. 

 “Under The Weeping Moon”, começa por meio de alguns arpejos acústicos muito interessantes que depois evoluem para um excelente riff de guitarra. A princípio, vai se desenvolvendo em um ritmo lento, então que a bateria para e a guitarra fica isolada. O riff de guitarra fica mais pesado ainda, e agora junto de uma banda tocando na mesma intensidade que ele enquanto que os primeiros vocais anunciam mais uma música cheia de agressividade e clima sombrio. A música mais a frente, entra em uma atmosfera taciturna com as duas guitarras entregando algumas sonoridades arrepiantes. Quando vai chegando perto dos 6 minutos, a faixa vai ressurgindo, até que uma seção rítmica trituradora, seguida pela guitarra e por último o vocal, colocam novamente a peça dentro de uma musicalidade raivosa. “Under The Weeping Moon” ainda engana o ouvinte fazendo pensar que vai terminar em meio a uma sonoridade suave, mas explode seu som pela última vez nos seus últimos segundos.  

“Silhouette”, durante as gravações de Orchild, San Swano, produtor do álbum, não acreditou em Mikael quando ele disse que o baterista da banda, Anders Nordin, sabia tocar piano, foi então que surgiu essa música para provar que a informação sobre o talento do baterista era verdadeira. Mesmo não tendo nada a ver com que veio antes, possui uma beleza medieval que se encaixa bem dentro do disco. Serve muito bem para que o ouvinte dê uma respirada depois de duas peças tão fortes e intensas. Possui uma sensação fantasmagórica bem legal. Obviamente que Anders não é nenhum virtuoso, mas teve boas ideias.  

“Forest Of October” recoloca o disco para uma linha de musicalidade bastante forte. Depois de uma introdução pesada, Mikael solta um dos seus rosnados sombrios e a peça ganha em intensidade e velocidade – principalmente por conta da bateria. Nesse meio caótico, há uma breve passagem com vocais limpos e violão que dão um toque e contraste agradável antes da faixa seguir de forma agressiva. Por volta dos 4:40, a música adentra a uma sonoridade espacial onde um violão divide espaço com algumas guitarras distorcidas ao fundo. Então que que faixa explode com um solo de guitarra, voltando novamente para uma seção espacial, agora com o violão mais ao fundo e a guitarra em primeiro plano. Quando baixo e bateria se juntam à música, a construção é de um número extremamente depressivo. O tanto de variação entre agressividade e linhas pacatas talvez tenha sido demais, ao meu ver, se a faixa fosse uns 4 minutos menor, seria mais interessante. Mesmo assim, uma ótima música.  

“The Twilight Is My Robe”, apesar do rosnado inicial, seria possível dizer que uma música do Opeth soou otimista nem que seja por alguns instantes? Difícil de imaginar, eu sei, mas é exatamente o que acontece aqui, uma espécie de Iron Maiden mais dark, antes dela silenciar e o clima sombrio característico tomar de conta. Voz e violão anunciam uma nova parte pesada, com umas guitarras gêmeas que novamente me vem o Iron Maiden em mente – lembre-se que, quando falo Iron, falo de uma versão de sonoridade mais obscura da banda. A transição que acontece nos 3:30 é sensacional, Mikael canta de forma limpa sobre algumas notas belas e triste de violão. Considero essa, uma das partes mais bonitas de todo o álbum. Então que a seção rítmica faz mais uma transição com destaque para o baixo antes da entrada de alguns riffs cativantes de guitarra. Após tudo ficar lento novamente, um violão antecede uma instrumentação alucinante que inclui um solo nervoso de guitarra e o regresso dos vocais rosnados. Um solo incrível de guitarra emerge por volta dos 10:20 e leva a música para o seu final. 

“Requiem” é uma faixa curta de pouco mais de um minuto. Tem uma linha de baixo interessante e boas ideias de violão. Acho que poderia ser até um pouco maior, mas serviu bem como um interlúdio. “The Apostle In Triumph” possui uma introdução bastante influenciado pela música folk, apenas por meio de violão, um ótimo baixo de fundo e algumas percussões. A música então começa de verdade, digamos assim, completamente diferente do que aconteceu anteriormente no primeiro minuto. Pesada e em ritmo lento, a peça então retira o seu peso e é guiada apenas por uma bateria suave, guitarras cintilantes e uma linha de baixo tímida. Pouco antes dos 4 minutos o rosnado de Mikael anuncia novamente a inclusão de uma vibe metaleira. Pouco depois dos 5 minutos, a guitarra fica cativante antes do bumbo duplo elevar a música para algo mais pesado ainda. Por volta dos 7:30 há uma transição maravilhosa, e pode parecer um pouco de exagero o que foi escrever agora, mas me lembra um pouco Limp Bizkit, sim, ouvindo Opeth eu consegui lembrar de Limp Bizkit. Então que, chega em uma parte cantada que fica variando entre vocais limpos e rosnados por cima de uma base pesada que inclui dois excelentes solos de guitarra. A peça ainda fica acústica e Mikael canta suavemente mais uma vez antes do disco chegar ao fim por meio de uma batida e melodia amena.  

Depois de ouvir Orchild após tanto tempo, só me vem uma palavra para defini-lo, subestimado. O disco já encapsula muito bem tudo o que o Opeth se tornaria futuramente ao ganhar o mundo com a sua música. Todo o death metal progressivo brutal que mistura metal extremo e rock progressivo já estava totalmente desenvolvido – ainda que não totalmente lapidado -, assim como os muitos ingredientes de peso com toques extras de folk, clássico e até jazz. O álbum foi lançado dentro de uma linha completamente nova de death metal progressivo, e mesmo que o Opeth ainda não tenha encontrado o seu pico de criatividade e composição, Orchild é uma experiência musical forte e válida.  

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