quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Slint – Spiderland (1991)


 

Disco menosprezado em 1991, Spiderland tornou-se um clássico de culto para quem aprecia pós-rock (e diria rock em geral). Ouvindo-o, percebe-se facilmente as razões para tal.

Estivémos há umas semanas reunidos para analisar e debater o ano de 1991, e como o mesmo serviu de transformação ao panorama musical vigente, com os inolvidáveis NevermindOut of TimeTenBadmotorfingerBlood Sugar Sex MagikScreamadelicaBlue LinesMetallica (entre uns quantos outros) a serem lançados e, com isso, começarem um novo capítulo na História da Música. Mas 1991 deu-nos também outros discos que passaram despercebidos na altura e que com o tempo se tornaram de culto, um deles sendo Spiderland. Quiçá alguns que estarão a ler nunca ouviram falar de Slint. Eu próprio, que tenho a mania que conheço bastante coisa no universo da música (quanto mais descubro mais percebo o quanto ainda há por descobrir) não os conhecia até há bem pouco tempo e perdi com isso a oportunidade de os ver ao vivo, no Primavera Sound no Porto em 2014. Mas nunca é tarde para se conhecer bandas novas, sejam elas recentes ou antigas, e este processo de descoberta constante é mesmo um dos maiores prazeres de andar nestas andanças (passe o pleonasmo). Passemos portanto à história.

Formados em 1986 por garotos de 16 anos de Louisville, Kentucky (cidade da qual ninguém poderia prever que sairia alguma coisa minimamente inovadora) os membros dos Slint gravaram o seu primeiro disco (Tweez, 1987) com um produtor que hoje é reconhecido por todos como um dos grandes magos do rock alternativo – Steve Albini. Tudo seguindo o método do it yourself, regra numero um do punk, gravado grande parte na cave de um dos membros, tendo de recorrer a uma amiga para que o mesmo fosse editado. O disco seguinte não foi muito diferente, esboçado nas férias da universidade, mas desta vez já havia editora (ainda que pequena – Touch and Go) e estúdio de gravação (em Chicago, a cinco horas de carro de distância, e apenas dispondo de um fim de semana). Ainda assim o resultado foi este abismal Spiderland e portanto tudo terá valido a pena. Para nós, ouvintes, certamente. Já para Brian McMahan, guitarrista e vocalista, nem por isso – logo após o fim das sessões de gravação de Spiderland comunicou aos restantes membros a sua saída da banda. As razões para tal ainda são um pouco obscuras, há quem diga que Brian se sentia ser o único a puxar pelo barco, há quem diga que terá sido uma depressão, consequência de um acidente de carro que quase lhe levou a vida, o que é certo é que os Slint acabaram aí, sem mostrar o seu trabalho ao vivo a ninguém. A mística à volta da banda cresceu ainda mais com estes revezes.

Toda esta história de nada valeria não fosse o som da banda ser o que é – irrepreensível. Uma intensidade incrível a cada riff, a cada grito ou sussuro, a cada paragem que se prolonga, a cada explosão. Tudo parece fora de sítio e ainda assim tudo parece fazer sentido no caos, não há estrutura de canção, não há verso e refrão. São apenas seis músicas que se interligam de tal forma que uma audição desatenta não apanha onde acaba uma e começa a música seguinte. “Nosferatu Man” é voraz, “Don, Aman” são seis minutos e meio de tensão constante, no limiar da explosão que nunca chega.

Terminados como conjunto, os membros dos Slint continuaram carreira em música, uns com Will Oldham no seu projecto Palace Brothers, envolvendo-se com bandas como Interpol e Yeah Yeah Yeahs, voltando a reavivar os Slint para concertos em 2005, 2013 e 2014. O legado da banda é inegável. Bandas como Explosions in the Sky, Godspeed You! Black Emperor, os mais recentes Black Country, New Road não seriam o que são sem esse caminho aberto, há 30 anos atrás, por uns miúdos de um pardieiro perdido no interior dos Estados Unidos.



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