quinta-feira, 2 de março de 2023

Cinco Músicas para Conhecer: Jethro Tull sem flauta

 

O repertório do Jethro Tull está tão associado ao uso da flauta, que imagens de Ian Anderson empunhando sua flauta estão estampadas nas capas de muitos lançamentos da banda ao longo dos anos. Foi uma ideia bastante feliz de Anderson, que originalmente pretendia ser guitarrista – como competir, no fim dos anos 60, com guitarristas do nível de Eric Clapton, Jeff Beck, Jimi Hendrix e Jimmy Page? A única forma era tocando um instrumento que eles não tocavam! Genial, não é? Mas ainda que Ian Anderson tenha criado, pela música e performance no palco, uma iconografia peculiar para sua banda a partir da flauta, o Jethro Tull tem grandes momentos sem flauta em sua vasta discografia. Vamos destacar alguns desses momentos nesse texto.


“To Cry You a Song” (1970)

O Jethro Tull vinha em uma crescente de popularidade e Benefit (1970), seu terceiro disco, coloca a banda entre os principais nomes do rock do período, no qual a herança dos anos 60 ia ficando para trás. Temos aqui um riff forte executado pelo baixo e pela guitarra, como uma metamorfose das escalas do blues em algo totalmente novo. A voz de Ian Anderson é amplificada por uma caixa Leslie, o que traz um efeito bem interessante. A versão de estúdio conta várias camadas sobrepostas de guitarra de Martin Barre e não tem a participação do tecladista John Evans. Glenn Cornick dá uma aula de baixo, complementando com precisão o trabalho de guitarra e interagindo magistralmente com a bateria. Ao vivo, a banda colocava uma dose bem generosa de peso na execução, potencializando ainda mais a força da canção, como pode ser visto no show da banda no Festival da Ilha de Wight (1970).


“Aqualung” (1971)

Ironicamente, uma das faixas mais famosas e aclamadas do Jethro Tull não tem nada de flauta ao longo de seus 6 minutos e meio de duração. “Aqualung”, a faixa, é uma excelente síntese dos primeiros anos da banda, pois cruza o lado mais elétrico da banda com uma precisa abordagem folk. A abertura da faixa é simplesmente embasbacante com a bateria e um riff fora do comum executado pela guitarra e pelo baixo, acrescido dos vocais expressivos de Anderson. Nada de flauta foi preciso para expressar tamanha musicalidade. O disco tem composições excelentes e é um acerto do início ao fim. Não a toa, fez muito sucesso na Europa e EUA e fez a banda ganhar disco de ouro poucos meses após seu lançamento.


“Two Fingers” (1974)

“Two Fingers”, faixa do álbum War Child, tem algumas peculiaridades – é uma composição retrabalhada pela banda, que originalmente se chamava “Lick your fingers clean” e foi gravada na época de Aqualung, mas não foi aproveitada; é uma música que não tem flauta, mas tem saxofone (executado muito bem por Ian Anderson) e acordeon no lugar de teclados. A base da faixa é um folk britânico bem vibrante, na qual as distorções da guitarra e a ironia da banda (que inclui palmas e percussões) tornam em uma coisa única. A versão anterior (“Lick your fingers clean”) é bem mais direta e vale muito a pena ser conferida (tem flauta).


 

“Taxi Grab” (1976)

O álbum Too Old to Rock n’ Roll: Too Young to Die! é outro que não tem flauta em sua faixa título, mas a escolha recai sobre outra ótima e pesada faixa desse disco, já contando com os formidáveis John Glascock (baixo) e Barrie Barlow (bateria). Ian Anderson ataca com a gaita eletrificada e Martin Barre com a guitarra slide, trazendo um clima blueseiro que não se ouvia há bastante tempo nos álbuns do grupo. O instrumental dessa faixa é magnífico e é um dos melhores do JT sem flauta – guitarras ardidas, violões vibrantes e cozinha incendiária.


“Broadsword” (1982)

A tentativa do Jethro Tull de inserir as sonoridades da nova década não foram, no geral, bem sucedidas. Seu som parecia rústico demais para os sintetizadores polifônicos e os amplificadores transistorizados. Mas ainda sim, com boa vontade, é possível garimpar bons momentos, como é o caso da imponente faixa que abre o lado B do álbum Broadsword and the Beast. A faixa tem algo do prog do fim dos anos 70, com uma dinâmica mais reta e constante (ao sabor dos 80’s) e conta com um excepcional trabalho de guitarra de Martin Barre. A flauta realmente não fez falta aqui.


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