quarta-feira, 22 de março de 2023

Resenha Underwater Sunlight Álbum de Tangerine Dream 1986

 

Resenha

Underwater Sunlight

Álbum de Tangerine Dream

1986

CD/LP

Este é um álbum do Tangerine Dream que divide os fãs. Eu pessoalmente o conheci cedo, não muito depois de ter sido lançado, e gostei. Fãs antigos execraram a digitalização do som da banda, que terminava de se concretizar aqui. Marcou o fim dos sons analógicos, com suas distorções e harmônicos orgânicos, e o começo de uma sonoridade metálica, áspera e aguda, na qual sons de cravo ou clavicórdio sintetizados conduziam todas as melodias, aparentemente  ao gosto do líder Edgar Froese e ao desgosto de muitos ouvintes. O abuso desses timbres eu vejo em retrospecto como um demérito para o grupo, que antes tinha sido tão bom em inventar seus próprios sons e distanciar-se dos imitadores. Mas a própria banda percebeu isso, tanto que depois regravou um dos discos desta fase, "Optical Race", com outra instrumentação.

Quanto às composições, não há muito para reclamar. Com a saída de Johannes Schmölling, um membro muito importante por ter ajudado a fazer o TD ser mais versátil e acessível, entrou em seu lugar o jovem pianista austríaco Paul Haslinger, de formação clássica, que ao final de seus cinco anos com o TD fincou pé na Califórnia (assim como fizera Peter Baumann na década anterior) e lançou um extenso portfólio de música para filmes (mas sem blockbusters no currículo). Recomendo que se ouça os três primeiros álbuns solos de Paul ("Future Primitive", "World Without Rules" e "Score") para testemunhar sua extrema mudança, acrescentando ao mix vozes e instrumentos asiáticos e africanos, orquestra sinfônica e jazz, e fazendo sumir o sentimentalismo neoclassicista que demonstrava com o TD. Até meados da década de 1990, nada que evocasse "world music" fazia parte do projeto do Tangerine Dream, que por seu lado parecia tentar escapar da sua fórmula original de músicas baseadas em sequenciadores e escalas modais.

Voltando a "Underwater Sunlight", este disco faz um par com "Tyger", criado logo depois com exatamente os mesmos instrumentos. O tema oceânico pode ter sido sugerido por Chris Franke, membro do grupo que estava com um pé firme naquilo que foi batizado com desprezo da crítica de "New Age". A faixa de abertura é muito similar a seu trabalho imediatamente posterior à saída do TD, que trouxe temas de natureza em "The London Concert",  "Pacific Coast Highway" e "Enchanting Nature". E ainda voltaria a essa sonoridade às vezes questionável com "The Celestine Prophecy". O primeiro vislumbre desse estilo é a faixa que Franke criou para fechar o disco de estúdio anterior, "Le Parc".

A segunda faixa, que tem clara participação de Haslinger na composição, apresenta um tom lírico e bem dramático. É uma canção que exprime angústia sem usar palavras, e o solo impressionante de Edgar Froese na parte final confirma esse sentimento. A música termina com um prolongado "fade" desse solo sobre efeitos que sugerem o canto de baleias e uma nota pedal no baixo que é algo simplesmente mágico, até emocionante. A única outra vez que o TD usou esse belíssimo recurso foi em "Smile", uma composição de "Tyger" que é pouco lembrada mas pela qual tenho carinho.

"Dolphin Dance", outra composição que é a cara e a fuça de Franke, abre o outro lado do vinil, reciclando uma batida pop que tinha sido usada em 1982 na música incidental para o filme "The Soldier". Apesar do arranjo cafona, com direito a uma insincera guitarra sintetizada, tem uma melodia ótima.

"Ride on the Ray" é a resposta de Froese à faixa anterior, usando uma base rítmica que deu as caras em outras músicas que o TD criou na época para filmes. Aqui o solo de guitarra é de verdade.

"Scuba Scuba" é Froese no piloto automático, prolongando a atmosfera de seus álbuns solo "Stuntman" e "Pinnacles". Nada especialmente interessante aqui. 

"Underwater Twilight", a faixa de encerramento calma, é prenúncio de trabalhos posteriores desta formação do grupo e encerra o disco de forma pouco destacada.

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