quarta-feira, 22 de março de 2023

Resenha Sorcerer (Trilha Sonora) Álbum de Tangerine Dream 1977

 

Resenha

Sorcerer (Trilha Sonora)

Álbum de Tangerine Dream

1977

CD/LP

"Sorcerer" (Comboio do Medo) é um filme de 1977 de William Friedkin, o mesmo diretor que obtivera surpreendente sucesso com "O Exorcista" alguns anos antes. "O Exorcista" utilizou na trilha sonora um pedaço da parte inicial de "Tubular Bells" de Mike Oldfield, álbum esse que inaugurou a Virgin, a mesma gravadora pela qual o TD editaria seus trabalhos mais famosos logo a seguir. Tudo se conecta. 

Para seu filme seguinte, Friedkin quis usar uma música moderna como aquele trecho que pegara emprestado de Oldfield, só que deveria ser uma composição original determinando a atmosfera psicológica das cenas a serem filmadas e não o contrário, usual em produções de cinema, nas quais os músicos se viram para fazer encaixar a composição a uma película já montada. Assim, o TD reuniu-se e produziu um acervo de peças sonoras em tempo recorde.

O resultado ficou injustamente esquecido. Parte do problema é o título, que engana o espectador. O filme não trata de magia nenhuma. Trata de uma equipe formada por quatro sujeitos de origens duvidosas que se reúne para transportar dois caminhões lotados de explosivos através de uma grande floresta até um poço de petróleo incendiado, para apagar o fogo com a explosão. A estrada é pouco mais do que uma trilha numa mata fechada beirando precipícios, o clima é sufocante e os explosivos vazam aos poucos da carga, podendo mandar tudo para os ares com qualquer solavanco mais forte. Produzido com exaustivas filmagens em locação, a floresta no filme parece o próprio inferno na Terra. Um momento impossível de esquecer é a lenta travessia dos caminhões sobre uma ponte despedaçada, a ponto de despencar no rio, cena apavorante que gerou o pôster do filme e a capa do disco.

É evidente que o Tangerine Dream amou o prospecto de pautar musicalmente um dos filmes mais tensos já filmados. Entretanto, a trilha também contém várias faixas bem relaxadas, mostrando um lado "bluesy" de Froese e amigos. As músicas principais, que são a faixa título, "Betrayal" e "Grind", possuem aqueles famosos sintetizadores sequenciados com um toque agressivo e sinistro, perfeitamente adequado ao tema. O Mellotron é usado como instrumento solo, com grande efeito. O contemporâneo álbum ao vivo "Encore" documenta o que mais o grupo estava fazendo naquele tempo e soa um pouco como uma ponte para trabalhos posteriores, já na entrada da década de 1980. Seriam os últimos trabalhos com Peter Baumann, que saiu do TD para se estabelecer nos EUA.

A razão de esta resenha ter uma nota abaixo do esperável é que a qualidade do som deste álbum nunca foi boa, o que é lastimável. A despeito de uma restauração sonora não ser tarefa impossível, todas as versões publicadas de "Sorcerer" têm o áudio muito, muito ruim. Como forma de compensar, Edgar Froese gravou e lançou "Sorcerer 2014", que traz uma releitura das músicas originais e material inédito, não usado no filme, tudo isso parcialmente regravado com som perfeito e interpretação de mérito próprio. Não tem problema nenhum ouvir a nova versão antes e voltar à antiga só para comparar.


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