Neste capítulo, chamado “As dez Fases do Homem Comum”, composta originariamente em 1974, temos mais uma bela suíte com seus quase 10 minutos de duração e já mostrando nos seus primeiros acordes a que veio, me impressionando bastante, pois as associações com outras bandas de peso, que eu prefiro não citar, vieram a cabeça com muita clarividência, dando um verdadeiro passeio musical no que havia de melhor quando de sua criação.
O que me atrai nas músicas do VELUDO e em especial nesta música, é a possibilidade do imprevisto, pela mistura de estilos musicais sutilmente entrelaçados, criando uma atmosfera musical distinta a cada instante.
Nota-se que passado tanto tempo, há uma preocupação pela busca dos timbres dos instrumentos usados na década de setenta para manter a originalidade da composição e não comprometer sua história, levando-se em conta que basicamente é uma suíte instrumental que carece destes cuidados para não perder sua sonoridade e identidade.
E o mais interessante disso tudo é o tempo que separa a sua criação de digamos assim, de sua última execução pública registrada, pois são 44 anos e a música continua atual, não deixa aquela impressão de uma música antiga, de uma outra época, fato este que por ser atemporal e de vanguarda não se recente de sua longevidade.
Essa suíte tem como autor, o Nelsinho Laranjeiras, produtor e baixista da banda, que com muito empenho tem mantido a chama do VELUDO acesa esses anos todos e, para tanto nesta gravação que originou o áudio deste vídeo, estava acompanhado de músicos de primeira linha e o resultado, não poderia ser outro: Show.
Só resta fazer justiça e dar nomes a quem de direito, portanto, além de Nelsinho laranjeiras, tivemos também, Silvio Mazzei, Ronaldo Scampa, Fernando Vinhas, Silvio Romero, Sergio Conforti e Antonio Giffoni, em uma apresentação, que posso dizer, antológica, no Teatro Ipanema em novembro de 2018 na comemoração dos 50 daquela casa e, que vão aparecer em mais alguns capítulos desta saga, chamada VELUDO.
Tudo isso e muito mais, está disponível no CD duplo, “Veludo ao Vivo 1975 a 2018”, indo muito além de ser mais um álbum, pois é um documento histórico do rock progressivo no Brasil, dedicado aos amantes da música, aos historiadores e aos pesquisadores da nossa cultura.
Histórico da composição:
“Foi em 74, após receber o convite do meu amigo e parceiro Elias para entrar para o Veludo que comecei a escrever está suíte. O grupo tinha estreado há apenas duas semanas e dois componentes já estavam de saída. Pestana no sax e Pedro Jaguaribe no baixo. Claro!!! Estamos juntos novamente. Desliguei o telefone e imediatamente corri para o violão.
Teria que encontrar um velho ídolo. Gustavo Shoroeter do The Bubles (A Bolha) que era considerado um dos melhores bateristas do rock nacional e Paul de Castro, que eu não conhecia, mas já tinha recebido todos os elogios possíveis do Elias.
Já que iria enfrentar essas feras, tratei de terminar a suíte “As 10 Fases do Homem Comum” que consistia em 10 movimentos com ritmos e harmonias diferentes para contar uma história imaginária.
A história de um homem comum, durante uma vida comum, que com certeza, todo ser humano passa na sua existência. Misturando compassos alternados de rock, baião, Jazz, frevo e música folclórica, fui terminando a composição.
Seria um grande desafio tocar aquilo tudo ao vivo. Precisaria de muitos ensaios e disciplina. Mas no primeiro dia de ensaio, vi que isso ia demorar. Precisava primeiro aprender o repertório que eles já dominavam.
Foi então que baixando as influências de Paul McCartney e Chris Squire comecei a mudar tudo que vinha pela frente. Paul e Gustavo sentiram que eu ia dar trabalho. Elias, orgulhoso, apoiava e intimamente pensava: “Tá vendo! Esse é o cara!” Não que o Pedro Jaguaribe fosse ruim, pelo contrário.
Mas o som que seria a marca registrada do Veludo durante anos, teria que passar por um estilo de baixo diferente. Sendo assim, essa suíte ficou parada esperando o momento certo, que surgiria após a saída do Paul e Elias, quando eu assumi as rédeas do grupo e tive que montar um novo repertório.
Finalmente pude executá-la ao vivo, nos shows do Veludo. Com o fim do grupo em 78, tive que esperar outro momento para retornar a este projeto que acabou surgindo quando passei a trabalhar com o genial Marcio Montarroyos.
Ele me apresentou a David Sion, dono de um pequeno estúdio de 4 canais, que me liberou algumas horas de gravação, foi então que juntamente com os ex companheiros de Veludo: Paul de Castro (violino e guitarra) Paulinho Muylaert (flauta e guitarra) Flavia Cavaca (voz e percussão) convidei Constant (teclado ex O Peso), Marcio Montarroyos (trompete), Rui Motta dos Mutantes (bateria) e meu eterno ídolo Sérgio Dias para cantar a última parte da suíte."
Nelsinho Laranjeiras
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