O meu primeiro contato com o AC/DC foi justamente com a música “Back In Black”, se a memória não falha. Em tempos da boa, velha e finada MTV Brasil, tive contato com o clipe da faixa título e me espantei com o quão básico ele era: apenas os cinco caras em seus respectivos instrumentos em um palco/salão sem muitas pompas. A música me atraiu muito, mas o visual escolar de Angus Young me causou estranheza e me pareceu desnecessário. Hoje, o entendo como um ícone, que se destacaria até vestido de secretário em escritório – desde que com uma guitarra em mãos.
Entre os discos da banda, “Back In Black” permanece o meu favorito em muitos anos. A banda havia perdido Bon Scott ainda em 1980 e fez a decisão correta ao continuar sem o cantor. O destino provaria que o AC/DC, com todo respeito ao falecido cantor, era muito maior do que Scott. Os australianos passaram a contar com o britânico Brian Johnson nos vocais e rapidamente tiraram esse álbum da cartola.
A abertura com a arrastada “Hells Bells” amedronta ouvidos menos preparados. Os sinos e o riff principal são aterrorizantes. A música se desenvolve em um ritmo um pouco intragável, que é, ao mesmo tempo, sensacional. A evolução que a banda teve em “Highway To Hell” – até em proposta de tornar o som um pouquinho mais acessível – foi perpetuada no disco seguinte. Tanto é que “Hell’s Bells”, em termos de progressão harmônica, é uma das canções menos óbvias do AC/DC, que tanto repete bases do blues. E, novamente, com todo respeito a Bon Scott, mas só consigo imaginar essa faixa na voz do excepcional Brian Johnson.
“Shoot To Thrill” já é tipicamente AC/DC, sem muitas invenções ou firulas. Da tonalidade à estrutura, a canção é a cara dos irmãos Angus e Malcolm Young, que brilham com riffs monstruosos. “What Do You Do For Money Honey” é uma das minhas prediletas. A faixa é bem direta, nervosa, levemente acelerada e com vocalização excelente de Brian Johnson, especialmente no refrão, de notas altíssimas. Angus Young fez o solo ideal.
“Given The Dog A Bone” não chama muita a atenção. É apenas boa. O refrão puxado para os graves lembra os tempos de Bon Scott e faz pensar que essa faixa já deveria estar pronta antes da morte do icônico cantor. “Let Me Put My Love Into You” quebra o ritmo de forma sensacional. Um pouco mais arrastada, como a faixa inicial, essa música tem alguns dos melhores riffs do álbum. A letra, épica, tem algumas das melhores – e mais bregas – conotações sexuais. O solo, incrível, parece ter sido pensado de nota a nota.
Na sequência, dois clássicos irrevogáveis. A faixa título mantém a série de disparo de riffs sensacionais. O swing improvável da cozinha serve para mostrar que Cliff Williams e Phil Rudd não estão ali para ocupar espaço. É um raro caso em que absolutamente tudo dá certo em uma canção: os versos swingados, o refrão histórico, o ótimo solo e as variações rítmicas nas partes mais finais. “You Shook Me All Night Long”, se é que dá para ser considerada uma “balada”, tem melodia mais afável. Os instrumentos entram de forma progressiva: primeiro a guitarra de Angus e depois, respectivamente, a bateria, a voz, a base de Malcolm e, por fim, o baixo. Incrível sacada. O refrão é básico, preciso e grudento. Essa faixa é mais um exemplo de que algumas músicas desse álbum parecem ter sido minuciosamente pensadas, compasso a compasso, em contraponto à típica (e jamais ausente) espontaneidade do AC/DC.
A trinca de fechamento agrada, mas segue os padrões das outras faixas sem muitas inovações. “Have A Drink On Me” se destaca pelos excepcionais riffs de guitarra e pelo ótimo refrão. “Shake A Leg” é, provavelmente, outra música que já estava pronta antes da morte de Bon Scott. Mais básica, poderia entrar facilmente no álbum “Highway To Hell”. “Rock And Roll Ain’t Noise Pollution” conclui um dos maiores trabalhos da história do rock com um riff principal incrível e uma sensacional ode ao estilo na letra. Destaque ao refrão: “rock n’ roll não é poluição sonora; rock n’ roll não irá morrer”.
“Back In Black” superou quaisquer expectativas, especialmente da banda que queria acabar com a morte do vocalista antecessor. Hoje, é o disco de estúdio mais vendido da história do rock e um dos cinco entre todos os gêneros. A partir desse trabalho, o AC/DC se consagrou em definitivo.
Mérito não apenas dos integrantes do grupo, mas dos irmãos Young e Brian Johnson, que assinam, juntos, a autoria de todas as faixas, e do produtor Robert John “Mutt” Lange, que foi escolhido após fazer o AC/DC evoluir em “Highway To Hell”. Os hormônios do quinteto foram um pouco mais controlados em “Back In Black”, que é um trabalho menos acelerado e um pouco mais arrastado. Os timbres, acertados, são a cereja do bolo. Em um álbum que soa perfeito do início ao fim, não daria para se esperar menos.
Brian Johnson (vocal)
Angus Young (guitarra)
Malcolm Young (guitarra, backing vocals)
Cliff Williams (baixo, backing vocals)
Phil Rudd (bateria)
Angus Young (guitarra)
Malcolm Young (guitarra, backing vocals)
Cliff Williams (baixo, backing vocals)
Phil Rudd (bateria)
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