É sempre um prazer ouvir Moon Safari e relembrar o ano de 1998, quando a electrónica deu um passo de gigante para chegar a uma nova audiência.
Começo esta crónica por questionar um conceito muito utilizado em meandros melómanos para definir o espaço por onde deambulam os Air – o easy listening. Que raio de nome é este para um género de música? Será de criar também um medium listening e um hard listening, para as pessoas saberem antecipadamente o grau de dificuldade de audição que os espera? Diz a wikipedia que o mesmo foi concebido nos anos 50 para colocar composições que “formariam um papel de parede musical, nunca intrusivo”. Nos anos 60 até foi criado um top Billboard específico para este género, que depois evoluiu para o que hoje é o Adult Contemporary Chart (que, se formos a ver o actual, nada tem de adulto…). O que é certo é que sim, de facto a sonoridade criada pelos Air é fácil de ouvir, mas é também e ao mesmo tempo muito mais que isso, e este Moon Safari comprova isto mesmo.
Arrancamos a nossa viagem com “La Femme d’argent”, sete minutos que nos levam para um planeta distante, do qual não se prevê que voltemos tão cedo. Passamos para um “Sexy Boy” tão, mas tão rodado e fútil, que de sexy já tem muito pouco. Com a terceira faixa vem voz, a de Beth Hirsch na deliciosa “All I Need”, o mais próximo que temos de uma canção pop e cujo videoclip ficou também marcado na cabeça de uma geração inteira (está mais abaixo). Segue-se “Kelly watch the stars”, sintetizadores anos 80 a bombar com nome da canção repetido ao infinito e “Talisman”, onde prosseguimos a viagem iniciada para lá da barreira de Kuiper. “Remember” são os Air a brincar com o vocoder e eis que entramos nas que são para mim as duas canções mais marcantes do álbum: “You make it easy”, novamente com a elegante voz de Beth Hirsch, a comandar uma melodia melancólica que termina com um “So watch me fall in love”; e “Ce Matin-Là”, instrumental, trombone e saxofone combinando com os sintetizadores, ouro puro. Termina-se com “New star in the sky” e “Le Voyage de Pénélope” que mais não servem do que para cimentar a beleza da viagem que foi.
Com Moon Safari, os Air criaram um universo sonoro imaculado, conjugando contribuições que vão desde um Gainsbourg a um Burt Bacharach, metendo-lhe electrónicas duma Electric Light Orchestra e aspirando a criar algo que só Brian Wilson almejou – o fazer canções com tudo isto. Fazê-lo com uma amálgama instrumental que vai desde sintetizadores Fender Rhodes e Moog a violoncelos e harpas, e assim dar à electrónica uma roupagem pop foi um marco em 1998, e isso ninguém tira à dupla Nicholas Godin e Jean Benoit Dunckel, mesmo que se possa alegar algum cansaço que ouvir o disco hoje nos traga.
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