Bebendo da fonte de Miles Davis no período elétrico, krautrock e rock psicadélico, John Dwyer reúne alguns dos seus colaboradores favoritos para partir numa viagem interestelar.
John Dwyer não é um estranho ao lado lisérgico da música. Os seus Osees (ou Oh Sees ou Thee Oh Sees ou OCS, como preferirem), produzem desde 2003 vastas quantidades de rock, folk ou prog impregnados de ácido. Ainda que tenha molhado os dedos dos pés no jazz em certas ocasiões, o californiano nunca dedicou um disco inteiro ao género.
Bent Arcana, gravado numa longa sessão que, segundo Dwyer, originará discos futuros, é um caldeirão borbulhante de ideias musicais mais ricas do que um projeto desta natureza possa sugerir. “The Gate” à maneira do bebop, começa com a melodia, que é repetida várias vezes até se dissolver em solos. Nem todas as músicas têm uma estrutura tão rígida: “Outré Sorcellerie” faz lembrar as secções mais arrítmicas de “Interstellar Overdrive” dos Pink Floyd, enquanto que “Misanthrope Gets Lunch” vê os músicos a esganar os seus instrumentos por cima de uma cama krautrock que não vacila ao longo dos seus quatro minutos.
O culminar de todas estas influências é melhor ouvido no clímax do disco, “Oblivion Sigil”. Um groove simples, por cima do qual a guitarra ácida de Dwyer ora acena em melódica concordância ou dispersa-se em riffs angulares distraídos. Ao contrário da maior parte das músicas deste disco, a música não acaba; é acabada por um fade-out que, talvez para a canção caber no vinil, a desvanece de forma utilitária.
Para um disco recolhido a partir de improvisos, Bent Arcana é surpreendentemente melódico e memorável, mesmo nos seus momentos mais abstratos. Esta alquimia só é possível devido à qualidade e química entre os músicos envolvidos, que raramente tocam algo ao acaso e nunca tentam roubar os holofotes, algo tão raro neste tipo de música.
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