Resenha
Strinkadenn'Ys
Álbum de Seven Reizh
2001
CD/LP
Se existe algo que não é novidade para ninguém, são bandas de rock progressivo que utilizam de elementos musicais celta, logo, não é falar sobre essa característica e esse tipo de influência que vai me despertar o interesse em ouvir um disco. O que realmente espero nesses casos, é ouvir algo que soe diferente, sendo exatamente o que Strinkadenn Ys entrega. Apesar da música celta evidente, o acréscimo sinfônico e de música ambiente concretizam um álbum de rock progressivo de qualidade surpreendente. Interessante também, é que o disco é cantado todo em gaélico, dando ainda mais força para a sua música. Podemos dizer tranquilamente, que a Seven Reizh não apenas conseguiu escapar de qualquer armadilha do gênero e que fizesse com que esse álbum fosse apenas mais um, como produziram um trabalho extremamente bem arranjado e que emana para todos os lados bastante beleza, delicadeza e encanto. Strinkadenn'Ys é um disco conceitual onde o seu fio condutor é construído sobre uma lenda celta e nos fala sobre Enora, uma lapidadora que traz o granito de volta à vida. A heroína viaja por um mundo fantástico, encontrando criaturas boas e cruéis. O final da aventura nos levará ao coração de Ys, a lendária cidade enterrada. Cada vez que eu escuto esse disco, é difícil não entrar em êxtase, pois a sonoridade é resplandecente, a produção é de uma qualidade categórica e a instrumentação muitas vezes de tirar o fôlego, tudo soa quase como terapia, uma coleção de músicas que fazem bem para a mente. Além da dupla que forma a banda, Gérard Le Dortz e Claude Mignon, o disco ainda conta com vários músicos que os apoiam e ajudam a criar uma aventura progressiva moderna de arranjos compactos cheios de brilhantismo. Vale destacar a utilização de instrumentos menos convencionais em um disco dessa natureza – leia-se rock progressivo sinfônico, pois para um trabalho de influência celta eles tão mais do que adequados -, como, uilleann pipes e bombarda. Conforme o disco vai se desenvolvendo, suas influências vão aparecendo com mais clareza, nomes como Genesis, Pink Floyd, Mike Oldfield e Camel logo vão surgindo em mente, mas ao mesmo tempo, a música acontece com muito frescor e personalidade. Suas passagens calmas, às vezes se chocam com a cólera e o frenesi de algumas orquestrações poderosas, porém, se mantendo sempre coerente dentro da história. Os vocais também merecem destaque, pois Bleunwenn Mevel, interpreta Enora por meio de uma voz celestial que eu coloco facilmente entre as mais belas há aparecer em um disco de rock progressivo sinfônico desde Annie Haslam. Outro vocal que também merece ser destacado, é o do cantor cabila, Farid Aït Siameur, que dá uma sonoridade oriental às letras de seu personagem, propondo assim uma maravilhosa mistura de linguagens. Por último, se você é daquelas pessoas que ainda gosta de comprar o material físico das bandas, a versão limitada desse disco possui um dos livretos mais lindos que já vi. São 50 páginas em que é contado toda a história de Strinkadenn'Ys uma vez em francês com letras em gaélico e outra em gaélico com letras em francês. Durante os seus cerca de 70 minutos, não há espaço para nenhum momento de tédio, a forma como tudo flui, prende o ouvinte de uma maneira quase hipnótica, às vezes, surpreendendo com muitas mudanças e reviravoltas que desfilam entre o rock progressivo sinfônico clássico e algumas lindas composições acústicas, que por sua vez, abrem caminho para seções incríveis de guitarra ou teclados sinfônicos.
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