domingo, 28 de maio de 2023

Disco Imortal: Stone Temple Pilots – Core (1992)

 Álbum imortal: Stone Temple Pilots – Core (1992)

Atlantic Records, 1992

O tempo fez jus a “Core”, a estreia dos Stone Temple Pilots e parece que agora mais do que nunca é um prazer retirá-la do baú das memórias, ainda mais considerando o quão baixo o nível da banda tem estado ultimamente (e claro, muita água passou pela ponte desde então) que naquela época com Scott Weiland e junto com os irmãos De Leo e o baterista Eric Kretz conseguiram lançar um dos maiores álbuns de estreia de todos os tempos.

E dizemos que ele fez justiça porque em suas primeiras críticas, a mídia "especializada" da época destruiu muito esse debut, chamando-os de clones do Pearl Jam ou do Alice in Chains, além de outros mais venenosos, ainda os considerando" free riders" do boom do grunge que explodiu mais do que nunca naquele período. Estamos falando de 1992, um ano após o lançamento de "Nevermind" do Nirvana e no mesmo ano de "Dirt" do Alice in Chains (na verdade, este álbum coincidiu com a aclamada e sombria obra-prima da banda de Layne). Staley).

Mas o disco dizia mais, o falsete de Weiland foi acusado de ter semelhanças com Eddie Vedder, embora um pouco disso fosse verdade, mas ao analisarmos o disco percebemos que havia algo diferente aqui, havia um talento a ser descoberto e sem dúvida, o facto de continuarmos a amá-lo há mais de 20 anos mostra-nos o que é bem verdade: STP estreou-se com um grande álbum, potente, até aos ossos, lisérgico, louco, que o tornou tão imortal quanto divertido.

Dizia-se por aí que "Sex Type Thing" era como se Mike Tyson fizesse grunge, um golpe certeiro na cara, direto no osso, uma música que falava contra o estupro pelo resto, nascida após o episódio em que Weiland saiu com uma menina que foi estuprada por três jogadores de futebol depois de uma festa. Se o Nirvana teve seu estranho repúdio com “Polly” a esse assunto, o de Weiland foi direto ao falar sobre machismo e violência, sobre impotência diante de não poder possuir 'legalmente' uma menina. Foi o primeiro single, embora pesassem mais outras canções que os levaram quase diretamente ao mainstream e às grelhas programáticas das rádios.

E estamos falando de grandes canções, sucessos, como “Plush” ou “Creep”. A primeira tinha tudo para dar certo, demonstrando a enorme voz do vocalista e a base rítmica influenciada pelo rag time que despertou muito interesse do guitarrista Dean De Leo naqueles anos. Foi único e o ponto de entrada do STP em nossos ouvidos; de 'Creep' o que dizer, uma beleza abstrata que teve dupla cobertura da mídia devido à saída de 'Creep' do Radiohead naqueles anos, ambos chegaram a brigar em mais de uma ocasião pelo primeiro lugar no ranking das rádios locais (e mundiais) . Seus violões ainda nos dão arrepios ao ouvi-lo. Mais uma demonstração de como as cordas desplugadas junto com algumas melodias dark eram uma fórmula tão poderosa, sim, quando eram brutalmente honestas como neste caso.

Mas a verdade é que estas canções só nos despertaram o interesse por algo quase tão marcante ou ainda melhor: a abertura com 'Dead & Bloated' e aquela entrada inesquecível com o verso 'I am smellin' like the rose that alguém deu-me no meu aniversário leito de morte' sob o megafone “amigo” de que Weiland tanto gosta, que precedia as batidas poderosas de Eric Kretz na caixa e as enormes guitarras que soavam bastante poderosas cortesia do bom produtor Brendan O'Brien (que por sinal mais tarde assumir outro grande álbum tão ou mais reverenciado como "Vs." do Pearl Jam, começando a estreitar uma relação de vida com os de Seattle). Esta foi uma faixa número 1 esmagadora.

Houve momentos muito estranhos no álbum, os interlúdios 'Wet my Bed', como um drogado bêbado a não mais dar ou 'No Memory' que precedeu o peso gigantesco das guitarras de 'Sin', uma música densa, com uma espécie de marchas e explosões em sua base de guitarra/baixo que claramente nos diziam que havia mais aqui, não era o peso sabático do Soundgarden ou AIC precisamente, havia algo em sua essência que os diferenciava disso.

Duas joias no final como 'Crackerman', uma ótima música para pular em qualquer lugar, foi uma surpresa naquele ponto, seu refrão totalmente blockbuster e as reviravoltas que deu em suas guitarras como se hipnotizassem, uma viagem, uma música para obter totalmente engolfado, pegue uma moto e vá procurar uma festa em qualquer lugar. O encerramento com 'Where the River Goes' foi para grandes palavras, broche de ouro total. Mais de oito minutos de peso e densidade 'grunge' (aqui os fantasmas da AIC podiam aparecer ao STP, mas com estilo). Um fechamento magistral para um disco praticamente sem pontos baixos.

O caso era curioso, é o álbum mais grunge dos STP e não foi tanto, com “Purple” dariam um passo enorme e mais ainda com “Tiny Music…” ainda mais tarde. Era a vez do ruivo de Weiland que guardava uma infinidade de ideias marcantes, mostrando que sem ele a banda ia ser pouco o que poderia fazer, e caso mais que demonstrado com os lançamentos de hoje e o absurdo litígio de por significa que a única coisa que fizeram foi não alcançar nada artisticamente. Não é preciso muito para perceber que Weiland é um talento, embora pareça que hoje quase o perdemos e, gostemos ou não, os De Leos deixaram claro que a camisa do STP pesou um pouco sobre eles ultimamente. Ficamos simplesmente com esta estreia de ouro.


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