domingo, 28 de maio de 2023

“Tim Maia Disco Club” (Warner, 1978), Tim Maia

 


Após desiludir-se com a seita Universo em Desencanto, onde estava afastado das drogas e do álcool, e até gravou dois álbuns que traziam nas canções toda a filosofia da Cultura Racional pregada pela representação religiosa, Tim Maia (1942-1998) estava de volta à vida mundana em 1976. Para retomar a carreira, Tim tomou uma atitude talvez não muito aconselhada para quem andou sumido dos holofotes do sucesso: lançou um disco em inglês, e de forma independente. Seria uma boa ideia se a intenção fosse o mercado internacional, mas não foi o caso. O resultado foi que o álbum em inglês, que levava o nome do cantor, foi um tremendo fracasso em vendas.

No mesmo ano de 1976, Tim Maia assinou contrato com a gravadora PolyGram, e lançou um álbum autointitulado, cuja faixa de maior destaque foi “Rodésia”, música inspirada no país de mesmo nome que passava por grandes conflitos internos na década de 1970, e que culminariam na consolidação de sua independência perante o Reino Unido, em 1979, quando a ex-colônia britânica passou a se chamar República do Zimbabwe. Apesar da boa canção, o álbum teve uma repercussão muito modesta. Em 1977, desta vez pela Som Livre, Tim Maia lançou mais um álbum, e que repercutiu também muito pouco comercialmente.

Em 1978, Tim estava em mais uma gravadora diferente, a norte-americana Warner, então recém-instalada no Brasil, tendo como presidente André Midani. Para o novo álbum, Tim decidiu explorar a sonoridade da disco music, que na época estava em pleno auge em todo o mundo. Tim enxergava na disco music parentesco com o funk e a soul music, o que evidentemente era uma verdade. Para essa empreitada e buscando gravar um álbum que não repetisse a performance dos dois álbuns anteriores, Tim escalou um time de músicos de alto nível e teve todo um cuidado na seleção de repertório.

A banda que acompanhou Tim foi a Banda Black Rio, grande sensação da música negra brasileira naquele momento. Dentre os convidados, estavam o amigo Hyldon, cantor que ficou famoso com a canção “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)”, em 1975, e o guitarrista Pepeu Gomes, que na época havia deixado os Novos Baianos e partiu para a carreira solo, o arranjador e tecladista Lincoln Olivetti (1954-2015), e o multi-instrumentista Robson Jorge (1954-1992).



Os arranjos do álbum se dividiram entre o maestro uruguaio Miguel Cidras (1937-2008) e o próprio Lincoln Olivetti. Mas a presença de Olivetti no álbum se deveu a uma confusão protagonizada por Tim Maia no começo das gravações do álbum. Tim mostrava-se insatisfeito com os arranjos criados por Cidras e queixou-se com o produtor Guti Carvalho, falando alto, xingando o maestro uruguaio, e exigia que Olivetti fosse o arranjador. O que Tim não sabia, é que Guti, sem querer, esqueceu o microfone aberto. Do outro lado do estúdio, Cidras ouviu os xingamentos de Tim à sua pessoa. Furioso, Cidras não pensou duas vezes e foi até o local em que Tim estava para tirar satisfações. O caos se instalou no estúdio. Acalmado os ânimos, Lincoln Olivetti foi convidado para escrever os arranjos de cinco das dez faixas do novo álbum.

Intitulado Tim Maia Disco Club, o álbum já apresentava na sua capa e contracapa, a proposta do novo trabalho de Tim. A arte da capa foi toda concebida na estética da disco music, trazendo um globo espelhado, luzes e letreiros em neon, que remetiam às casas noturnas que tocavam música disco, chamadas na época de discotecas.

Tim Maia Disco Club começa com uma incrível sequência de músicas dançantes para não deixar ninguém parado numa pista de dança. “A Fim De Voltar” é uma típica disco music, e traz vocais femininos com vozes bem agudas acompanhando Tim Maia no refrão. Um belo naipe de cordas percorre toda a música. Em seguida, “Acende O Farol” mantém o ritmo disco lá em cima, com um baixo pulsante, e os naipes de cordas e de metais alternando o protagonismo na base instrumental.

“Sossego” é um funk que desacelera um pouco o ritmo da sequência, mas seu balanço dançante é irresistível, é capaz de fazer até um poste se mexer. A letra trata do sujeito que quer boa vida e nada de trabalho só, sossego. Uma curiosidade de “Sossego” é que sua base instrumental é parecidíssima com a de “Boot-Leg”, uma música instrumental do grupo norte-americano Booker T & The MG’s, lança como single em 1965.

“Vitória Régia Estou Contigo e Não Abro” é uma faixa instrumental em ritmo disco e extremamente dançante. A faixa é uma oportunidade para o ouvinte perceber as habilidades e a qualidade dos músicos que acompanharam Tim Maia na gravação Tim Maia Disco Club. A bateria é veloz e mantém a levada “bate-estaca” típica da disco music. O piano elétrico pontua toda a música, o baixo é vigoroso e o naipe de metais assume a linha de frente.



Fechando o lado A da versão LP de Tim Maia Disco Club, “All I Want”, uma balada soul cantada em inglês. Os arranjos preparados por Lincoln Olivetti são tão impecáveis que certamente estava no mesmo nível ao que se fazia nesse seguimento musical nos Estados Unidos. Os vocais de apoio ganham um destaque que dão a impressão ao ouvinte de que o vocal de Tim é apenas coadjuvante.

O lado B começa com o romantismo da balada “Murmúrio”, onde os vocais de Tim Maia e os vocais de apoio se alternam ao cantarem os versos da canção. “Pais E Filhos”, canção de Arnaud Rodrigues e Renato Piau, trata de maneira bonita e singela o amor que um pai tem pelo seu filho.

“Se Me Lembro Faz Doer” é uma balada romântica sobre um homem que após sofrer por amor, decide mudar o rumo de sua vida e esquecer a pessoa que tanto amou. A canção lembra de maneira sutil “Primavera”, um dos primeiros sucessos da carreira de Tim Maia. Após o romantismo sofrido de “Se Me Lembro Faz Doer”, vem “Juras”, mais uma balada romântica, mas com leves traços dançantes de disco music.

Encerrando o álbum, o balanço discreto de “Jhony”. A letra trata de um jovem que dá nome à música, e que desde criança sonhava ser um jogador de futebol. Mesmo tendo crescido, cursado a universidade e se formado doutor, a paixão do jovem pelo futebol persistiu. Destaque para o solo de guitarra de Pepeu Gomes, que na época havia recém deixado os Novos Baiano para seguir carreira solo.



Com Tim Maia Disco Club, Tim Maia voltou às paradas de sucesso e recuperou o prestígio. “A Fim De Voltar” e “Acenda O Farol”, foram bastante executadas em rádio. No entanto, o maior sucesso do álbum foi “Sossego”, uma das músicas mais executadas no Brasil em 1978. “Sossego” foi incluída na trilha sonora da telenovela Pecado Rasgado, da TV Globo, em 1978. O sucesso do álbum fez Tim voltar a lotar os seus shows, como o que ele fez num baile de black music no ginásio do Palmeiras, em São Paulo, para um público estimado em 10 mil pessoas.

Todas as canções de autoria de Tim Maia, exceto as indicadas.

Faixas

Lado A
  1. “A Fim De Voltar” (Hyldon - Tim Maia)
  2. “Acenda O Farol”                   
  3. “Sossego”        
  4. “Vitória Régia Estou Contigo E Não Abro”     
  5. “All I Want”
Lado B
  1. “Murmúrio” (Cassiano)         
  2. “Pais E Filhos” (Piau - Arnaud Rodrigues)
  3. “Se Me Lembro Faz Doer”
  4. “Juras”           
  5. “Jhony" 



“A Fim De Voltar” 


“Acenda O Farol”      


“Sossego”  


“Vitória Régia Estou Contigo E Não Abro”  


All I Want”


“Murmúrio”


“Pais E Filhos”


"Se Me Lembro Faz Doer”


“Juras”   


 
"Jhony" 


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