Ultra Mono é um cão de guarda caseiro que fica à porta a ladrar a tudo o que passa e como tal já ninguém lhe liga, nem o dono, quando o perigo é mesmo real.
A comparação/ligação era fácil de fazer – seriam os IDLES os Sex Pistols que esta geração precisa, para despertar os mais jovens para alguns dos problemas do mundo através de um punk adaptado ao século XXI? O potencial estava lá, sendo que os IDLES quiseram mostrar logo de início ter algo mais a dizer do que um “Don’t know what I want but I know how to get it”, abordando temas latentes da sociedade como o racismo, o machismo, as incoerências da política britânica e do populismo que vai ganhando o seu espaço. Mas se o fizeram com um bom equilíbrio entre pertinência, suporte musical e vigor no anterior Joy as an Act of Resistance, de 2018, aqui o balanço perdeu-se – Ultra Mono quer ir a todas as “guerras” mas fá-lo de forma superficial; quer recriar sonoricamente o ambiente de concerto ao vivo mas só consegue criar barulho; o vigor é mesmo o único elemento que se mantém intacto.
Não haverá muito mais a dizer, não querendo fazer desta uma crónica preguiçosa pode-se acrescentar que há alguns momentos bem conseguidos, nomeadamente em “Model Village” onde se questiona os modelos de sociedade do século XX, uma provocação com ironia e dedo na ferida em doses certas. Em “Danke”, canção que encerra o disco, Joe Talbot vai buscar o hino de Daniel Johnston (“True love will find you in the end”) recriando-o em mantra energético sobre a amizade. Em “Ne Touche Pas Moi” há a participação de Jenny Beth, mas que é quase imperceptível.
Os IDLES correm, com este disco, o risco de passarem a ser um simples cão de guarda, que ladra muito mas não morde ninguém, e irrita por ladrar muito e sempre alto, sem consequências daí advindo.
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