sábado, 20 de maio de 2023

Sérgio Godinho – Ligação Directa (2006)


 

Ligação Directa marca o regresso de Sérgio Godinho aos álbuns de originais, passados seis anos do anterior. O melhor que se pode dizer é que os anos não passam por ele.

Em 2006 Sérgio Godinho interrompeu o interregno que levava desde Lupa (2000) para mostrar que ainda tinha “Ligação Directa” ao mundo da música. Depois de álbuns ao vivo (Afinidades, com os Clã), de colaborações (Irmão do Meio) e espectáculos musicais (Portugal – uma comédia Musical), este álbum é inspirado e mostra que o autor ainda estava (e está ainda) longe de perder o seu jeito de escritor de canções.

Nas dez canções do álbum, duas delas não foram escritas pela pena de Godinho. São elas o Big-One da Verdade e o Ás da Negação, escritas por Hélder Gonçalves e Nuno Rafael, respectivamente. O disco tem participação ainda de Manuela Azevedo, Joana Manuel, Tomás Pimentel, Nuno Cunha, Jorge Ribeiro e Jorge Teixeira como músicos convidados.

O primeiro contacto com Ligação Directa é “A Deusa do Amor”, onde os coros abrem suavemente para a voz de Sérgio Godinho. Como as letras são invariavelmente irrepreensíveis, o difícil aqui é não passar todo o texto a citar boas passagens. Logo depois sentimos que a abertura é suplantada pelo pizzicato inicial de Às Vezes o Amor. A canção muito bem escolhida para single tem ainda a curiosidade de ter sido feita por uma equipa onde estava Ana Rocha de Sousa, galardoada com um Leão de Ouro e outros prémios no Festival de Cinema de Veneza em 2020.

O disco prossegue com “Marcha Centopeia” e “Não Há Duas Como Ela”, duas canções completamente diferentes mas enraizadas no universo musical de Godinho. A primeira mais alegre e a segunda mais séria, têm ambas arranjos que não destoavam se fizessem parte de discos dos anos 70. Já “O Velho Samurai” e as lânguidas cordas, acordeão, farfisa ou algo da família, servem de cama à música sobre um sobrevivente, como o seu autor.

Logo a seguir a coisa anima-se com “O Rei do Zum Zum”, uma sátira sempre actual à fama a todo o custo e” No Circo Monteiro Nunca Chove”, uma espécie de “Being For The Benefit Of Mr. Kite” à portuguesa.

As duas canções que não são da autoria de Sérgio Godinho são como se fossem dele. Isto é o maior elogio que se pode dar a quem escreve letras de canções. Tanto “Às da Negação” como “Big One da Verdade” têm a verve de Godinho presente em cada palavra.

Ligação Directa termina em grande. “Só Neste País” é um dos pontos altos num disco cheio deles. Sérgio Godinho estava em forma aos 61 anos e o seu lado de cantor de intervenção nunca ficou esquecido.

Conseguimos não citar uma única passagem de letras durante todo este texto. Godinho consegue estar sempre actualizado e merece “a fama e o proveito”. Bolas.



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