quarta-feira, 17 de maio de 2023

Metallica – S&M2 (2020)

 

A voz de James Hetfield é a melhor surpresa da segunda aventura sinfónica dos Metallica e nem por isso o disco deixa de nos aquecer a alma. Será a isto que chamam envelhecer com classe?

Kill’ Em AllRide the LightningMaster of Puppets e … And justice for All, mudaram tudo. Aceleraram o rock a uma velocidade até então impensável, mataram de vez as permanentes e o Glam com que se enfeitavam os mais roqueiros no começo da década, colocaram as guitarras no seu devido caminho – uma versão olímpica do rock de até então, para ouvir (ainda) mais alto, tocado (ainda) mais rápido, com som (ainda) mais pesado. Para os mais puristas, os Metallica podiam ter ficado por aí. Um erro de quem via nos Metallica apenas a melhor banda de metal e que tardou em perceber que a música vinha de uma das melhores bandas de rock da história. Um erro de quem nem imaginava que por essa altura os quatro de São Francisco apenas aqueciam para o seu melhor disco, o tal homónimo, o tal que metaleiros desprezaram, o mesmo que pôs o Mundo a ouvir metal pela primeira vez. Eventualmente, o que verdadeiramente mudou tudo, o que fez dos Metallica uma banda mesmo à parte. O primeiro em que James Hetfield, de facto, canta. Estávamos em 1991.

Passaram quase trinta anos, ficaram para trás as notícias das cordas vocais rebentadas, as estadias em clínicas de desintoxicação e, além de sobreviver, a verdade é que nunca Hetfield cantou tão bem. É essa a primeira evidência de S&M2, a segunda aventura na companhia de uma orquestra sinfónica da banda, disco cujo maior pecado será o excesso de parecenças com o antecessor. A orquestra é a mesma, “The Ecstasy of gold” e “Call of Ktulu”, abrem ambos os discos e as repetições não se ficam por aí. Mas haveria alternativa? Alguém imagina um disco dos Metallica sem “Master of Puppets”, “One”, “Nothing Else Matters” ou “Enter Sandman”? Impossível, sobretudo tendo em conta que de 1999 para cá muito boa gente nasceu, cresceu e, eventualmente, nunca deu pelos tais discos que fizeram dos Metallica um dos pilares do rock que todos queremos – pelo menos nós, os do bem – saudável e vigoroso.

Todos acima dos 55 anos, vão longe os anos em que eram conhecidos como Alcoholica, miúdos armados de guitarras, baixo e bateria, instrumentos que então tratavam com mais vigor que carinho. Hoje apresentam-se como senadores, os instrumentos estão bem cuidados, valem milhões, acompanham-se de orquestra. Na voz de Hetfield tudo se ouve e se imponência no som nunca faltou, agora ouve-se requinte nos arranjos, até cuidado com os detalhes. Em “Unforgiven III” e “All Whitin My Hands”, brilha Hetfield, em “The Day That Never Comes”, “Halo Fire” brilha a Orquestra que em “(Anesthesia) – Pulling Teeth” nos oferece o melhor momento do disco – lembram-se do solo de Cliff Burton? E se for tocado por uma secção de cordas com o som distorcido? Imperdível. E ainda assim, nada soa novo. E será isso necessariamente mau?

Desde 1983 que por aí andam, digressões incontáveis, de originais são dez discos de hinos, daqueles que por todo o Mundo fazem estádios cantar, saltar, são dúzias. Foi-se o efeito surpresa e a verdade é que as moshadas são cada vez menos. Estarão os Metallica a perder vigor? Será que a inevitável perda de velocidade no ‘gatilho’ – dedos, se quisermos ser anatomicamente exatos – de Kirk e Lars se revelará fatal? Será esse o motivo das moshadas – em concertos quando os ouvia, no meu carro quando ouço o disco – serem cada vez menos? Suspeito que não. Basta imaginar que, mesmo na versão sinfónica, “For Whom The Bell Tolls” e “One” tivessem sido lançadas este ano. Alguém mais tem rock deste? Mas então, porquê a quebra no entusiasmo? Meus amigos, a verdade é dura, quase tão dura como o miserável som da bateria de Lars em St Anger. Estamos velhos e só os mais sortudos aproveitaram a idade para apurar talentos, bom gosto e classe. Os Metallica são gente de sorte.



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