quinta-feira, 25 de maio de 2023

Resenha Desolation as a State of Mind Álbum de CATCØRE 2023

 

Resenha

Desolation as a State of Mind

Álbum de CATCØRE

2023

CD/LP

Quando David Kaliczok, guitarrista da banda alemã, CATCØRE, entrou em contato por e-mail com o 80 Minutos, devo admitir que ele soube se expressar muito bem na hora de descrever a sonoridade que seria encontrada aqui. Por meio de um texto pequeno, mas muito instigante e que automaticamente me despertou o interesse em ouvir seu disco de estreia, Desolation as a State of Mind, logo procurei a banda em alguma plataforma de streaming para conhecê-la. A forma como a banda consegue misturar, através de doses certeiras o seu rock às vezes mais cru e às vezes progressivo, junto de linhas de avant-garde, além de pinceladas de rock alternativo e indie, e ainda assim, manter o seu som muito bem direcionado, é bastante interessante. 

Algo que eu também devo mencionar, é que fiquei bastante interessado em saber qual a relação da banda com gatos e porque escolhê-los como uma espécie de mascote para a banda. Talvez a aura enigmática dos felinos também sejam a que a banda quer passar por meio de suas músicas. Outro ponto, é que gatos são animais de muita personalidade, assim como as músicas de Desolation as a State of Mind. Isso talvez não tenha nada a ver, mas achei interessante tentar fazer alguma ligação musical com meu animal favorito.  

“Me, Myself & I” começa o disco muito bem. Possui uma seção rítmica sólida e que atua de forma muito evidente – principalmente as linhas de baixo. O trabalho de guitarra é bastante adequado e os vocais entregam muita serenidade. Como sempre costumo dizer aqui no site, eu sou apaixonado em refrãos bem-feitos, e devo dizer que aqui temos um refrão extremamente cativante.  “Elephant in the Room” começa com alguns ataques de bateria e guitarra quase cacofônica, porém, apropriada. Tudo então vai se organizando até a música se acentuar em um ritmo médio e bastante atraente, onde me lembrou um pouco os brasilienses da extinta banda Moveis Coloniais de Acaju – isso realmente foi bem específico, mas foi o que eu senti. A seçao rítmica é riquíssima, as linhas de guitarra preenchem a peça com muita avidez e os vocais novamente são adoráveis. Bem próximo do final, tudo fica mais pesado e de harmonia sombria.  

“Hide & Seek”, o clima sombrio deixado no final da peça anterior se mantem – ainda que dentro de uma pegada completamente diferente. As batidas repetidas, vocais melancólicos e um coro taciturno ao fundo vão desenhando uma música atmosférica, então que o refrão aparece pela primeira vez e a deixa envolvente por alguns segundos antes de regressar à sonoridade tristonha. Por volta dos 4 minutos, acontece uma mudança de ritmo, a bateria faz uma marcação, enquanto uma voz sussurrante deixa a peça ainda mais tensa, algumas guitarras espaçadas e uma linha discreta de baixo também ajudam a criar uma aura misteriosa que finaliza a música. “Riddle”, começa por meio de um belo arpejo de guitarra, então a seção rítmica se junta a ela e juntos constroem uma bela melodia que antecedem a entrada dos vocais inicialmente distorcidos, mas que depois ficam serenos. Durante os refrãos o vocal distorcido sempre reaparece na música. Não é uma música tão atrativa quanto as anteriores, mas não deixa de ter os seus méritos. “Voices”, com pouco mais de um minuto, é a menor peça do disco e entrega apenas um excelente trabalho de parede vocal. Na segunda metade, ainda há a inclusão de um teclado que vai emergindo ao fundo, porém, são as vozes que são a atração principal.  

“La Resurrección del Reptil Rasputín Part I”, após uma voz repetir a mesma frase por três vezes, a música de fato inicia. Possui um groove muito bom. Durante os refrãos a sonoridade fica mais pesada. Após o segundo refrão, a música por alguns instantes entra em um universo reggae enquanto uma voz que parece vir de um megafone acompanha a banda. A peça então entrega mais uma mudança de andamento e novamente com bastante groove. Após silenciar um pouco seu som, entra em um novo segmento. Por volta dos 4:11, o baixo de maneira solo e em seguida acompanhado pelos vocais, antecipam o momento mais pesado da música.  É admirável ver uma música com tantas mudanças permanecer coerente do começo ao fim. “Cloudy Glasses” é um dos momentos mais lindos do disco. Um barulho de chuva e teclas cintilantes criam uma atmosfera edificante. Os pássaros e as vozes de crianças ao fundo ajudam dar à peça um clima de trilha sonora tocada que poderia ser tocada no Jardim do Eden. Vale destacar também, que é impossível não lembrar de “Echoes” do Pink Floyd em alguns lamentos isolados de teclado que se infiltram em partes pontuais da faixa.   

“La Resurrección del Reptil Rasputín Part II” tem a introdução e alguns dos trechos mais pesados do disco. A música se desenvolve dentro de uma variação de melodias mais polidas e outros momentos que soam mais sujos e até mesmo agressivos. Apesar não ser tão rica musicalmente quanto a Part I, ainda entrega um resultado muito bom. “Head under Water” é a música de encerramento. Inicia com alguns sons meio sombrios antes dos vocais surgirem e trazer com ele toda a banda. O ritmo é bastante lento e os vocais emocionais, ficando assim até por volta dos quase 4 minutos de música, quando há uma mudança de andamento, a marcação da bateria começa a soar mais rápida, permanecendo assim até desaparecer de maneira abrupta. Um teclado esquisito ainda permanece assombrando a peça por cerca de 50 segundos antes dela chegar ao fim.  

Como eu disse lá no início da resenha, o e-mail enviado aqui para o site estimulou bastante a minha curiosidade, com isso, fiquei com receio de criar uma expectativa muito alta em relação ao disco e no fim das contas não ser bem o que eu esperava, porém, me surpreendi com o que ouvi. Os irmãos Alex Siegel (bateria) e Kamil Siegel (baixo) estão constantemente colocando a seção rítmica na posição de uma das grandes atrações do disco, com linhas ora requintadas e ora enérgica, mas sempre bem direcionada e criativa. Vale destacar também que os irmãos foram os principais compositores e arranjadores do álbum. O guitarrista David Kaliczok é um músico que sabe abraçar os demais instrumentos e trabalhar em prol da música como um todo, nunca querendo aparecer mais que alguém. Sua guitarra permeia cada uma das faixas de uma maneira bastante hábil e com ideias férteis. Os vocais de Kim Hammann são muito bonitos e parecem se intercalar em vários tipos de sentimentos. David e Kim também foram os que tocaram os teclados do discos. Resumindo, Desolation as a State of Mind é uma estreia de uma banda promissora, que ainda que não tenha entregado o seu máximo, já mostrou o quão longe seu potencial pode levá-la.  

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