quinta-feira, 25 de maio de 2023

Resenha One Man's Grief Álbum de Deposed King 2023

 

Resenha

One Man's Grief

Álbum de Deposed King

2023

CD/LP

Cativante, encantador, melancólico e atmosférico na medida certa, são apenas um dos atrativos de um disco que oferece um som único e profundo devido aos seus contrastes de complexidades. Em termos vocais, o duo húngaro formado por Daniel Kriffel e Dominique Király mostra grande influência em Mariusz Duda e Steven Wilson, além Mikael Åkerfeldt em sua encarnação de vocais mais limpos. Às vezes, em apenas uma música é possível notar vários tons que se entrelaçam entre si, porém, sempre mantendo o conjunto bastante coerente, não são apenas retalhos incorporados de uma forma desconexa. 

Se não fosse a internet e a sua facilidade de fazer com que músicas atravessem o mundo, muito provavelmente as únicas pessoas que conheceriam esse som seriam aquelas que frequentassem os Pubs de Budapeste, o que seria uma pena, pois toda a comunidade amante de rock progressivo deveria conhecer essa gravação extremamente robusta e caprichada, além de orgânica e cinematográfica. A maneira afável e comedida com que boa parte do disco se desenvolve também pode fazer com que o ouvinte sinta algumas boas doses de post-rock. Possui um total de 9 faixas, onde 5 delas são instrumentais e as outras 4 tem o acréscimo de vocal. 

“First Light” inicia o disco com os seus pouco mais de 2 minutos, mas que já consegue transmitir muito bem a atmosfera que vai ser encontrado durante todo o álbum. Uma introdução incitante, atraente, melancólica, introspectiva e de uma distinção tremenda. Simplesmente impossível ouvir uma peça dessa e não se interessar pelo que o restante do disco tem a oferecer. “Caves” começa por meio de uma batida lenta e guitarra suave antes de ficar um pouco mais rápida, sendo que em ambos os casos, há uma forte vibração de post-rock. Suas linhas suaves e outras com um pouco mais de densidade mantem a carga emocional que permeia toda a peça. A forma absorta como todos os instrumentos funcionam entre si é maravilhosa.  

“Endless Hours” é a primeira peça do disco a conter vocais. De sonoridade muito espacial feita por teclas que abraçam o ouvinte por todos os lados e guitarras muito elegantes e requintadas. Enquanto isso, os vocais são lindos, intimidantes e bastante comoventes. Na segunda metade, a música sofre uma mudança em relação ao que vinha apresentando até o momento, porém, se mantendo dentro da sua atmosfera grandiosa e composta com muita inteligência. “Path Of Forlorn” tem o seu início por meio de uma sonoridade étnica e tom medieval tão profundo, que profere uma percepção em seu som que faz parecer que eles querem relembrar de quando as tropas mongóis derrotaram o exército do rei húngaro Belá em 1241. Novamente a dupla fornece uma música de muito brilho e elegância. Mais à frente, há uma entrega musical psicodélica e até mesmo com um pouco de aceno ao stoner rock. Baixo, bateria, guitarra e teclados criam harmonias imaginativas e engenhosas de forma enérgica pela primeira vez no álbum e mesmo assim eles mantem um tom nobilitante.  

“Half-Light”, uma dica, pegue as paisagens mais belas que você encontrar e edite um vídeo com elas e mais a batida eletrônica que transpõe a maior parte dessa música, o assista e você poderá ter um remédio natural contra ansiedade. Essa peça é um ensaio sônico, onde cada um dos seus segundos, é entalhado de uma maneira tão arrebatadora e cativante, que o potencial dela para fazer com que o ouvinte fique preso em seus 9 minutos é enorme. Os 3 minutos finais são mais introspectivos, mas sem perder a beleza da música, entregando um desfecho cinematográficos à faixa. “Fading Shadows” começa de uma forma muito delicada e atmosférica, estabelecendo-se em um ritmo tranquilo e com algumas excelentes frases de guitarra, juntando isso aos vocais afáveis e tristonhos a música nos remete facilmente ao Riverside. A forma como a banda cria todo um clima harmonioso pode até ser comum, porém, os meios utilizados são realmente singulares. Destaco também um belo solo de guitarra já na última parte da peça. Mais um momento belíssimo de um disco que é certeiro do começo ao fim.  

“Sirens Of The Sun”, às vezes fico impressionado o quanto real uma bateria eletrônica bem programada pode soar. A execução das teclas povoa a peça com toques brilhantes. Com menos de 3 minutos, ao lado da faixa de abertura, é uma das duas músicas mais curtas do disco, mas que ao mesmo tempo, entrega muito charme e elegância. Uma maneira muito boa de preparar o ouvinte para as duas faixas que encerram o álbum. “Ceasing To Exist”, passando dos 9 minutos é a maior peça do disco, além de também ser a mais pesada. A forma como a dupla consegue criar atmosferas que contrastam por meio de serenidade e peso umas com as outras é incrível. Em alguns pontos, a utilização de alguns vocais mais ácidos é surpreendente, enquanto as guitarras duplas que explodem e uma seção rítmica robusta, além de teclados assombrosos ajudam a desenhar uma faixa de atmosfera assustadora. Esses caras realmente são muito bons em criar uma sonoridade melancólica poderosa. “Last Light” é a faixa de encerramento. Uma peça de atmosfera celestial e soporífera de beleza inexplicável. Não possui muita variação, mas é genial dentro de uma repetição liderada por um piano que parece abraçar o ouvinte. Um final simples e ao mesmo tempo incrível para um disco sensacional do começo ao fim.  

O meio do ano nem chegou, mas eu apostaria com qualquer um que dificilmente haverá três discos capazes de tirar, One Man's Grief, do meu pódio de melhores do universo progressivo de 2023. Se a ideia for ouvir algo que exala paixão por meio de peças introspectivas, emotivas, sensíveis e cativantes, não espere mais nenhum segundo, mergulhe nessa viagem sônica e se perca em uma estrada musical extremamente harmoniosa.  

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