quinta-feira, 25 de maio de 2023

Resenha Orsak:Oslo Álbum de Orsak:Oslo 2019

 

Resenha

Orsak:Oslo

Álbum de Orsak:Oslo

2019

CD/LP

É absolutamente impossível para este que escreve a presente resenha falar sobre o homônimo álbum de estreia da interessantíssima banda sueca Orsak:Oslo sem contar aos leitores a história de como fui apresentado ao som desse quarteto formado na cidade Gotemburgo por Christian Andersson (guitarra), Øyvind Minsaas (bateria), Bjarne Karlsson (teclado, guitarra) e Peter Nilsson (baixo).

Há cerca de dois meses eu encomendei, diretamente do site da Kapitän Platte Records, os dois primeiros álbuns dos noruegueses do The Low Frequency in Stereo (banda hoje dissolvida, e da qual já falei aqui quando resenhei o maravilhoso disco Pop Obskura, de 2013). O selo Kapitän Platte se especializou no lançamento, em vinil (e em edições limitadíssimas), de discos que só tinham saído em CD, digital download ou streaming. Era justamente o caso dos LPs que eu havia adquirido pelo site. Mas, para a minha surpresa, o pessoal da gravadora me mandou de brinde, junto com os vinis, o disco do Orsak:Oslo (sim, é assim mesmo que se escreve), banda da qual eu ainda não tinha ouvido falar. 

A turma da Kapitän Platte parece ter advinhado que eu tinha grandes chances de gostar do CD (pois é, ao contrário do que o leitor deve ter pensado, eles não me mandaram de brinde a edição em vinil). Sim, eu gostei bastante. Tanto que precisava vir aqui no “80 Minutos” compartilhar com todo mundo. Lançado em 2019, esse primeiro álbum dos suecos é, na verdade, uma compilação: ele reúne faixas pinçadas de EPs lançados entre 2016 e 2018 apenas no formato digital download. São eles As We Fall (2016), a tríade You’re All Gone, Tipping Point e Flodvåg (todos de 2017), Ghost Gear (2018). São, ao todo, seis faixas puramente instrumentais, sendo que a mais curta tem quase seis minutos de duração.

Se alguem fizer a pergunta “com o que se parece?”, eu responderia, baseado exclusivamente na audição desse material, que o Orsak:Oslo soa como um Neu! mais punk e metálico, mas ao mesmo tempo psicodélico. Mesmo assim, corro o risco aqui de estar a simplificar demais. Uma rápida pesquisa no site Discogs mostra que muitos estilos diferentes costumam ser associados à produção da banda, do krautrock ao blues, do hard rock ao pós-punk, passando até mesmo pelo progressivo. Caso se preste a devida atenção, dá para identificar, sim, um pouco disso tudo no som que eles fazem. 

“040 Sleepwalker”, por exemplo, soa como uma espécie de blues. Um blues não à moda do Delta do Mississipi, naturalmente, mas, sim, como o clima congelante dos fiordes nórdicos. Já “041 As We Fall” lembra bastante algumas coisas do The Cure. Mas o ponto alto do disco é, sem dúvidas, a épica (ô adjetivo batido, heim?) “050 Crying for Sleep”, com seus delirantes nove minutos de pura lisergia. É a única faixa que rompe com a fórmula predominante de canções minimalistas / repetitivas (aqui no bom sentido, tá?) e está dividida em duas seções, com a segunda celebrando desavergonhadamente o hard rock setentista. Prosseguindo com os títulos estranhos que começam com números, temos “064 Ghost Gear”, a música mais curta do álbum e que é, também, a faixa de encerramento. Ela começa com um breve solo de bateria que traz à nossa memória imagens de John Bonham espancando as peles, mas tudo não passa de uma espécie de false start. Na sequência, a banda manda um riff de guitarra que parece saído de uma trilha de faroeste espaguete do Ennio Morricone e dali em diante a música nada de braçada num mar de LSD. Mas tenho que pedir desculpas ao leitor, porque eu pulei etapas aqui. Fui direto para o prato principal e acabei deixando para trás as entradas. O disco abre com “052 Tipping Point”, que é puro motorik. Impossível não ouvir o primeiro minuto da faixa e não se lembrar, logo de de cara, de “Hallogallo”, canção de abertura do primeiro LP do Neu!, lançado em 1972. Seja onde Klaus Dinger estiver, certamente deve estar feliz com tamanha corrente de seguidores neste plano de existência. E temos também “043 Flodvåg”, uma espécie de mantra elétrico. Criadores de rótulos poderão chamá-la de “zen punk”. Ela também é a segunda faixa mais longa do disco e, pela atmosfera sugerida, é um convite ao transe. Quando se fala em rock na Suécia, o senso comum nos faz pensar imediatamente em bandas de death metal. Mas, pelo visto, existem muitos outros tesouros escondidos por lá esperando para serem descobertos e que mostram que o norte da Europa tem coisas mais diversas para mostrar. O Orsak:Oslo é um bom exemplo disso. O grupo pode até não trazer nada de novo ao universo do rock (e quem traz hoje em dia?), mas sabe fazer uso criativo das suas influências musicais e, o que é mais importante, com personalidade. E o faz misturando improvisação com ideias estruturadas. Ainda estou para ouvir seu trabalho mais recente, In Irons, lançado no mês passado, mas não tem erro: a estreia do quarteto em mídia física funciona, sim, como excelente porta de entrada. Por favor, entre sem medo!


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