terça-feira, 20 de junho de 2023

Stereolab – Dots and Loops (1997)


 

Dots and Loops é hipnótico, elegante e fresco, e o melhor disco de uma grande banda

Os anglo-franceses Stereolab já andavam nisto há alguns anos quando editaram o seu melhor disco, Dots and Loops, de 1997. Formados em Londres, inicialmente em duo, o grupo propunha-se fundir coisas como krautrock, jazz, pop-groups dos anos 60 e tecnologia, num som algures entre o retro e o futurista espacial.

Esta amálgama deu frutos excelentes em discos como Mars Audiac Quintet, de 1994, ou a pérola pop de Emperor Tomato Ketchup, de 1996, que, juntamente com o seguinte Dots and Loops formam talvez a triologia mais forte do grupo.

Há três factores que nos levam a destacar este último como o maior símbolo da discografia da banda. Em primeiro lugar, é o disco em que a produção dá um novo salto de extraordinária qualidade, fazendo os Stereolab soar como nunca haviam feito. A sua música é feita de camadas, padrões rítmicos e micro-efeitos e variações, com as vozes por cima, sós ou em elegantes harmonias. Em Dots and Loops tudo está na medida certa, as electrónicas borbulhantes e subtis, os sintetizadores vintage, a entrega vocal como se apresentada por uma robot francesa, entre France Gall e o Espaço 1999.

Em segundo lugar, porque é um disco que viveu profundamente o seu tempo. Os trabalhos anteriores eram magníficos, mas o mundo acertou o passo com os Stereolab nesse ano de 1997 e seguintes. A emergência de novos registos, desde os Massive Attack aos igualmente óptimos Saint-Etienne, passando pelos Air ou Saint Germain, foi abrindo os ouvidos de melómanos à procura de escapismo, fosse retro ou futurista (ou no caso dos Air e dos Stereolab, quase ambos ao mesmo tempo). Foi o disco certo na altura certa.

Em terceiro lugar, por uma razão puramente pessoal. Dots and Loops foi, em rotação incessante, companhia fiel do autor destas linhas durante muito tempo. As suas estruturas complexas mas leves, foram a perfeita companhia para muitas viagens. Digamos que o exercício envolvia alguns dos seguintes ingredientes indispensáveis: muito tempo livre; um lava-lamp de bolas verdes fluorescentes; substâncias então ilícitas de variado grau de qualidade; e uma cópia de Dots and Loops.

Ainda hoje, mais de 20 anos após a sua edição – e mesmo sem a restante parafernália – tirar o tempo para escutar Dots and Loops é garantia de uma viagem única. Um disco que, surgido no meio da febre lounge/easy listening – nem sempre recomendável – não envelheceu um dia. Dots and Loops é uma bela, complexa, intrigante e deliciosa fuga, sempre ao nosso dispor, à distância de um botão.



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