Como toda banda gigantesca, o Slipknot possui uma base de fãs fanática e que pode ser bastante irritante em certos momentos. Nada muito diferente dos fiéis do Iron Maiden, Dream Theater e outros grupos, convenhamos. A banda formada em Des Moines, no estado de Iowa, é um raro fenômeno geracional, aquele tipo de artista que surgiu na hora certa e com o tipo de som ideal para toda uma geração de fãs. Essa identificação profunda transformou o Slipknot em um fenômeno de popularidade, mesmo com o grupo norte-americano produzindo um tipo de música que passa longe de ser amigável ou acessível.
O ápice dessa agressividade está em Iowa, segundo álbum do octeto mascarado, lançado no final de agosto de 2001. O disco é um dos acessos de raiva mais intensos já registrados por uma banda e, ainda que apresente uma excelente produção, apela diretamente para os instintos mais básicos e primitivos tanto de quem criou as suas quatorze músicas quanto de quem ouve o que foi gravado.
Em Iowa o Slipknot cauteriza a sua identidade sonora, apresentando um jeito todo único de fazer heavy metal. A receita da banda traz elementos de metal extremo com características de death e black, vocais guturais e que algumas vezes se aproximam das bandas de screamo, variações que levam o som a transitar entre momentos de peso intenso e passagens caóticas, a marcante intensidade percussiva que sempre destacou a banda com a união da bateria fenomenal de Joey Jordison com a percussão de Shawn Crahan e Chris Fehn, e tudo isso amparado por uma parede de guitarras super densa e que ganha o reforço dos samplers de Sid Wilson.
Corey Taylor foi, desde o início, uma das figuras centrais do Slipknot, e em Iowa isso já fica claro pela força de seus vocais e pelas variações que ele consegue inserir nas faixas, seja cantando de forma mais agressiva ou tirando um pouco o pé em momentos mais melódicos. Jordison é de um vigor e de uma criatividade que impressionam, com levadas e andamentos absolutamente hipnóticos.
A associação da banda com a cena nu metal, musicalmente, nunca fez sentido, e isso fica claro já em Iowa. Basta ouvir o que o KoRn (a principal referência e melhor banda do estilo) fazia na época, ou até mesmo comparar com o que nomes bem menos inovadores como Limp Bizkit produziram. O que o Slipknot faz é beber na escola do Sepultura fase Chaos A.D. e Roots, nos ensinamentos do Pantera e nas suas próprias influências de metal extremo para entregar uma música única e sem igual, como que atualizando e evoluindo o lado mais agressivo do metal para a década de 2000.
Entre as faixas temos os destaques óbvios das já clássicas “People = Shit”, “Disasterpiece”, “My Plague” e “The Heretic Anthem”, além de ótimos momentos em “Left Behind”, “Skin Ticket”, “New Abortion” e “Metabolic”. Porém, uma das composições mais perturbadoras de Iowa é justamente a música que dá nome ao disco e que, durante seus mais de quinze minutos, traz a banda conduzindo uma jornada atmosférica e hipnótica que leva ao fechamento do trabalho.
Iowa chegará aos vinte anos de vida em 2021. Seu impacto não apenas na carreira do Slipknot mas no próprio metal como gênero musical foi gigantesco e inegável, o que coloca o disco entre os principais álbuns do estilo lançado no século XXI. E esse é um fato que vai muito além do fanatismo dos maggots (como os fãs do grupo se chamam) ou da antipatia dos haters.
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