quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Crítica: "Redemption" de Mystery, um belo disco progressivo com um conceito de pureza infantil e reflexos da vida adulta (2023)


Esta, que é minha primeira crítica em uma nação progressista, tentará analisar diferentes aspectos de um disco, desde sua capa, letra e música. Mystery é uma banda canadense já consolidada no cenário do rock progressivo, e conhecida por fazer parte do som melódico, sinfônico e neo progressivo. A mente por trás da equipe Mystery é Michel St-Père, guitarrista, autor e produtor do mesmo. Formados em Montreal, Quebec, em 1986, eles se interessaram pelo som do art rock através de sua discografia.

Vamos ao registro, Redenção (2023)

Como primeira impressão, devo dizer que a capa do álbum dá a sensação de que, através da natureza, do cultivo, do trabalho da terra, pode-se ascender ou talvez escalar rumo a novos horizontes, a infância no alvorecer da humanidade. Subir de nível de existência significa cultivar esse trabalho de forma pura. Veremos que relação esta imagem tem com as letras.


Behind the Mirror (6:43): O álbum abre com um hino aos heróis que emigram em busca de um novo começo, aqueles que constroem novos tempos para o seu povo. Tem um início enérgico, um refrão cativante onde convida a mexer, a transferir, a fazer o que for preciso para ir além do que vemos num espelho, como uma imagem que encobre o que realmente é. Uma liberdade se esconde por trás do que refletimos, uma liberdade que reside nos novos filhos, que trazem esse novo olhar, aquele “coração de aço” musicalmente, a bateria tropeçante se destaca nas letras, bem típica do progressivo: ambientes de hinos em suas sintetizadores, guitarras e baixos acompanham essa empreitada de seus personagens. 


Redenção (6:36): Uma mudança contundente de dinâmica, o ritmo está em ¾ com a atmosfera estremecendo devido à solidão. O personagem fala com um ser feminino que o ajuda a resgatar sua falta de preocupação consigo mesmo, plantando sementes no fundo de seu coração. Ele tenta se segurar para que uma luz surja algum tempo depois de tantas tentativas. Ele se desculpa por sua desesperança. A música acompanha tão bem o ritmo que chega a abalar a escala menor em que foi escrita. A voz parece vir de um cantor de joelhos apesar de tudo, a música atinge um pico próximo ao final da música guiada por um solo de guitarra bem melódico. 


A Bela e o Menos (9:15): Momento de uma emocionante canção, a vida de uma mulher que precisa vender seu corpo com vergonha para poder sustentar o irmão que mora longe dela. Musicalmente eles sabem expressar essa situação com muita técnica melódica, seja nos arranjos, nas viradas do baterista e no groove do baixista, combinando tão bem para o que depois se torna a partir do minuto 3:23 um som de sirene ao fundo sinaliza a vizinhança onde mora a mulher da canção, tensão em seu ambiente, solos de um violão lamentoso. O instrumental conduz por passagens onde as emoções da dita mulher se sentem resolutas e às vezes tensas, as progressões se resolvem e caem. A música termina com a esperança de que tudo acabe sendo ontem, sacrificando o presente por um futuro melhor.

Cada Nota (6:00): O personagem sente-se deslumbrado por uma mulher que conhece muito bem, entoa seus sentimentos por ela pelo carinho que sente vindo de sua alma a cada nota que emite. Uma balada poderosa de violão principalmente no início e no interlúdio, junto com uma flauta, misturam a melodia que leva ao clímax do rock. É uma música que passa do enérgico e calmante tanto do virtuosismo quanto da técnica de tocar lento e ao mesmo tempo dinâmico.

Pearls and Fire (12:42): Uma introdução com um refrão clássico de bandas que costumam tocar na suspensão do momento, a história de um menino reprimido pelos pais que sai de casa ainda jovem para se alistar na guerra. É neste momento que o rock progressivo entra plenamente como a melhor forma de contar a jornada de um herói, os perigos de lutar no fogo cruzado bem como no ponto mais profundo da música um solo de guitarra que evoca a devastação descrita na letra de as passagens a seguir. Porém, o tema gira com notas heroicas, dá essa virada de olhar a guerra como um passado, a partir de agora você se torna um emblema. 


Minha Inspiração (8:23): Nessa balada não se entende bem o que exatamente ele quer dizer com suas palavras indicando que é sua inspiração, a música mostra muito que se trata de uma banda dedicada quase inteiramente a elevar o clima, dando uma possibilidade de esperança, resolvendo-se numa pausa musical. Os arranjos sempre variam até nas repetições das passagens, são vários tipos de solos inclusive um entre guitarra e teclado harmonizando.

Homecoming (5:09): Um grande conselho abre esta despedida de velhos erros, muitas melodias neste tema conduzem a ambientes positivos e mudanças. Ótimo delay para grandes frases e notas de pedal. 

É assim que a história termina? (19:10): Virtuoses e técnicos, neste fechamento do álbum, com uma longa introdução, revisam riffs e melodias épicas. Então surge o Groove, como um passageiro de trem olhando de um lugar que é todos os lugares ao mesmo tempo. No minuto 6:29 surge um ambiente rítmico e eletrônico, onde se resolve em grande potência do grave ao agudo, a música é posta em movimento muitas vezes, as letras carregam slogans de não abandonar a possibilidade de aproveitar a oportunidade que uma missão exige. Minuto 14:11 un piano en solitario toca los acordes de lo que sería el comienzo de la sección final o parte 3 en un mismo tema, donde concluye con preguntas del personaje si es así como terminan las cosas, en indecisión y lleno de esperanzas a a vez.

São tantas as histórias que um estilo de rock progressivo pode abarcar, sempre trazendo para um ponto comum, seja por uma força de hábito no som de uma banda ou pela reiteração de seu compositor de que as coisas têm esperança. Foi divertido viajar entre músicos muito caprichados e técnicos, é como ter visitado as histórias de sempre com um som moderno. Neste álbum, a figura da criança é vista como um futuro e como a parte pura e bondosa, enquanto os demais narradores se sentem constantemente culpados ou indecisos diante de reflexões de natureza muito humana, mas também corrompida pelo caminho. para a vida adulta e as responsabilidades. A música acompanha muito bem cada história, é seu reflexo fiel e transcreve o emocional com o musical.  


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