É a mistura entre sonoridades várias, que se entrecruzam com o lado mais místico e fantástico de Grimes que tornam este disco tão diferente. É pop e é dark. É alegre e é fantasioso. É pesado e é denso. É contraditório, puxando em diferentes direções, entre a beleza e a fealdade.
E ao quinto álbum de originais, a artista canadiana Grimes (Claire Boucher) atinge o auge do experimentalismo pop. Depois de cinco anos sem lançar um disco, este Miss Anthropocene é uma evolução natural de Visions, de 2012, e do excelente Art Angels, de 2015, onde as experiências se misturam com o seu mundo de fantasia e rasgos pop, num resultado explosivo e muito interessante.
O disco tem como conceito as alterações climáticas, através de uma espécie de deusa mitológica, que vemos surgir em várias faixas, logo na abertura, em “So Heavy I Fell Through the Earth”, tema dark e synthpop, e em “Darkseid”, onde Grimes se junta a ?PAN, rapper taiwanesa que vai cantando ao longo do segundo tema do disco, em voz metálica e cortante (e que já tinha entrado em Art Angels), que gera ritmo e urgência, vontade de agir sem sabermos bem contra o quê. “Delete Forever” tem todos os ingredientes certos: toque acústico, um banjo, letra sentida, instrumentos de cordas, tudo certo para apertar os corações mais sofridos (escreveu-o numa noite após a morte de Lil Peep por overdose). Já “Violence” pende para o eletrónico, mais do género Art Angels, e é bastante dançável.
Apesar do tema das alterações climáticas, transversal ao álbum, ser pesado, Grimes quis colocar o filtro da fantasia e tornar tudo mais bonito, como a próxima já admitiu em entrevistas.
O álbum vai seguindo, consistente, dentro do universo Grimes, com estranheza e ritmo em “4AEM”, tranquilidade em “New Gods” e sonoridades que vão beber ao nu metal e industrial na excelente “My Name is Dark”. Regressamos às baladas com “You’ll miss me when i’m not around” e, a fechar, Grimes oferece-nos “IDORU”, sete minutos de luz depois do negro do disco, que é uma delícia e traz delicadeza na voz.
É esta mistura entre sonoridades várias, que se entrecruzam com o lado mais místico e fantástico de Grimes que tornam este disco tão diferente. É pop e é dark. É alegre e é fantasioso. É pesado e é denso. É contraditório, puxando em diferentes direções, entre a beleza e a fealdade.
Claro que algumas faixas não são tão bem conseguidas mas, no geral, o disco consegue ter a sua parte conceptual dentro da estranheza fantasista e negra de Grimes e algumas canções que ficam no ouvido e que são excelentes exemplos da evolução musical da artista.
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