terça-feira, 19 de setembro de 2023

Crítica Be Your Own Pet: “Mommy”

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Ano: 2023

Selo: Third Man Records

Gênero: Punk, Garage Rock

Para quem gosta de: Sleater-Kinney e Mannequin Pussy

Ouça: Hand Grenade, Worship the Whip e Goodtime!

Quando a realidade diária o confronta com “dois filhos e uma hipoteca“, como detalhado nos versos de Goodtime, ficar parado está longe de ser uma opção. Entretanto, para além das evidentes necessidades financeiras, o retorno do Be Your Own Pet, banda que havia encerrado suas atividades há mais de uma década, tem motivos bastante claros. Da ascensão da extrema-direita ao caótico cenário político, tudo se transforma em estímulo para que o grupo formado por Jemina Pearl, Jonas Stein, Nathan Vasquez e John Eatherly traga de volta o mesmo lirismo provocativo que apresentou o quarteto no início dos anos 2000.

Tão intenso e urgente quanto os dois registros que o antecedem, Mommy (2023, Third Man Records) não apenas resgata a essência do quarteto de Nashville, como evidencia uma banda ainda mais afiada do que em seus trabalhos iniciais. Do momento em que tem início, em Worship The Whip, fica bastante evidente o direcionamento adotado pelo grupo. Enquanto guitarras ruidosas e batidas rápidas orientam a experiência do ouvinte, versos marcados pelo forte discurso político se aprofundam nas contradições da sociedade estadunidense. De entidades religiosas à família tradicional, ninguém escapa ileso do Be Your Own Pet.

Exemplo disso fica bastante evidente na já citada Goodtime. Enquanto parte dos versos tratam sobre as transformações pessoais vividas pelos próprios integrantes ao longo da última década, no restante da faixa, o grupo discute a incapacidade de “velhos punks” em amadurecer e assumir responsabilidades reais. Essa mesma ferocidade e lírica consciente volta a se repetir em Hand Grenade, composição em que assume a responsabilidade pelos próprios atos. “Não sou sua vítima / Sou eu mesma / Não sou uma vítima / Eu me liberto por conta própria“, canta Pearl enquanto o coro de vozes dos parceiros repete: “Não tenho medo“.

E não são apenas os versos que destacam a força do quarteto em estúdio, mas a direção instrumental adotada pelo Be Your Own Pet. Embora livre do som empoeirado que concedia um charme especial aos primeiros registros da banda, Mommy surpreende pelo domínio técnico e esforço do grupo em ampliar o próprio campo de atuação. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Drive, canção que parte de uma base típica das criações do The Clash, porém, ganha forma, cresce e transporta o ouvinte para um novo território criativo, direcionamento que se repete em outros momentos ao longo do trabalho.

Em Erotomania, por exemplo, cada mínimo elemento parece pensado para grudar na cabeça do ouvinte, lembrando o encontro entre o punk e a new wave proposto pelo X-Ray Spex em Germ Free Adolescents (1978). Nada que impossibilite a entrega de composições marcadas pela crueza dos elementos. É o caso de Pleasure Seeker, faixa que evoca nomes como Sleater-Kinney e The White Stripes, porém, preservando a identidade do Be Your Own Pet. Surgem ainda criações como a derradeira Teenage Heaven, uma inusitada viagem do quarteto em direção ao pop da década 1960, como uma fuga breve do restante do registro.

Conceitualmente diverso e cuidadosamente pensado pela banda em todas as suas dimensões, Mommy destaca o amadurecimento criativo na mesma medida em que preserva a urgência e frescor do Be Your Own Pet. Dessa forma, mais do que um simples regresso, o registro se projeta como uma extensão natural de tudo aquilo que o grupo havia apresentado durante o lançamento do antecessor Get Awkward (2008). Não se trata de uma obra revolucionária para o gênero, porém, necessária e provocativa durante toda sua execução, como uma justificativa consistente sobre o retorno do quarteto após tantos anos em silêncio.


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