“Quero tudo ao mesmo tempo”, ouve-se a certa altura em Linda Martini. Os quatro da linha de Sintra já têm quase tudo – público, respeito, bons discos – mas chegaram à sua consolidação plena com passos seguros, sem pressas, com afinco.

Em 2018, os Linda Martini apresentam finalmente a Linda Martini – ela é a capa do novo disco, homónimo, trabalho do qual fugimos do previsível retrato de que representa a verdadeira essência do grupo: os Linda Martini são em 2018 o que estas dez faixas nos apresentam, mas não foram menos genuínos e personalizados no repertório passado.

Intempestivo no arranque, mais contemplativo a espaços, Linda Martini é “só” mais uma prova de vitalidade de uma banda rock que tem já largas dezenas de ótimas canções e um punhado de excelentes discos. Fica o desafio para quem tem em sua posse todos os trabalhos do grupo: peguem nos discos e vejam se cabem todos numa só mão. Os Linda Martini são já uma banda de carreira, sem que isso traga comodismo e acomodações. Por aqui, este mar continua agitado e turbulento (ou Turbo Lento).

Gravado na Catalunha, composto em residências artísticas, este é um trabalho que consegue o que muitos procuram mas nem todos atingem: dar continuidade a uma estética, uma sonoridade, e nela incorporar novos elementos, embrulhar tempos e versos, recriar paisagens e reforçar uma identidade muito própria. Em equipa que ganha não sem mexe, mas se a prática faz a perfeição, este é um coletivo consistente nos treinos e infalível no palco – ou no ringue, como recentemente vimos na digressão partilhada com The Legendary Tigerman.

Tudo isto é rock, tudo isto é Portugal, algo disto é fado. Celebrar os Linda Martini, a sua obra e vitalidade é, ao mesmo tempo, voltar aos pavilhões dos liceus de Queluz e Massamá, onde a aventura começou, e sorrir com o tanto já conquistado e o muito que há ainda por atingir.