Primeiro álbum solo de Ozzy Osbourne em uma década, Ordinary Man é o sucessor de Scream (2010) e traz o Madman acompanhado de uma banda formada pelo guitarrista Andrew Watt (que tocou ao lado de Glenn Hughes no California Breed e também é o produtor do disco), pelo baixista Duff McKagan (Guns N’ Roses) e pelo baterista Chad Smith (Red Hot Chili Peppers, Chickenfoot). O trabalho conta também com participações de Slash (em “Straight to Hell” e “Ordinary Man”), Elton John (que toca piano e divide os vocais na faixa que batiza o disco) e Tom Morello (em “Scary Little Green Men”), além dos rappers Post Malone (em “It’s Raid” e “Take What You Want”) e Travis Scott (em “Take What You Want”). Ao todo são onze canções inéditas em 49 minutos.
Ainda que seja louvável ouvir Ozzy ativo e produtivo aos 71 anos, depois de diagnosticado com Mal de Parkinson e adiando a turnê de lançamento do trabalho contínuas vezes por problemas de saúde, é inegável que Ordinary Man é um álbum irregular. E não teria como ser diferente, já que ele reflete o momento do cantor. Quedas domésticas, doenças crônicas e problemas neurológicos depreciativos fazem parte do cotidiano atual de Ozzy, infelizmente, e são questões impossíveis de fugir. Elas impactam a produção criativa do eterno vocalista do Black Sabbath, que mesmo assim preferiu não se esconder atrás do mito que é, vindo à tona com um novo álbum quando ninguém mais ainda esperava por isso.
A primeira parte de Ordinary Man soa exatamente como o Ozzy pós-No More Tears (1991), e canções como “Straight to Hell” e “Goodbye”, e principalmente o trio de arrepiantes baladas “All My Life”, “Ordinary Man” e “Under the Graveyard”, vêm acompanhadas por uma carga autobiográfica e emocional gigantesca nas letras. É Ozzy olhando para a sua vida, refletindo sobre a sua trajetória e concluindo a sua história. Essas cinco faixas são o ponto forte do trabalho e estão entre as melhores que o vocalista gravou em quase trinta anos.
Ecos de Black Sabbath podem ser sentidos desde a introdução da primeira música, com os clássicos “Allright, now!” e “Come on, now!”, na homenagem consciente à clássica “Iron Man” no início de “Goodbye” e no resgate da harmônica de Ozzy, eternizada em “The Wizard” e ressuscitada aqui em “Eat Me”. “Today is the End” soa como pai olhando para o filho, com Ozzy aproximando-se do Metallica dos tempos de Load. “Scary Little Green Men” e a Beatle “Holy for Tonight” fecham algo que poderia ser chamado de “tracklist normal” de Ordinary Man, e a conclusão após ouvir essas nove faixas é que o disco mantém a média de Ozzy a partir de Ozzmosis (1995). Ou seja: um trabalho mediano com algumas canções marcantes, mas que não compromete a trajetória de um dos maiores personagens da história do rock.
A discussão principal está nas duas últimas canções, que trazem Ozzy ao lado dos rappers Post Malone (cuja carreira conta com Watt como produtor) e Travis Scott. A primeira é uma espécie de punk rock repleto de energia e que, apesar de não possuir nada em comum com a sonoridade do Madman, não chega a comprometer – ainda que o clima juvenil na linha Green Day não seja necessariamente um elogio. A coisa sai realmente dos trilhos em “Take What You Want”, onde Ozzy serve apenas de escada para uma canção que está totalmente alinhada com o universo sonoro de Post Malone e conta com Travis Scott como convidado especial. Se estivesse em um disco de Post Malone, não geraria discussão. Em um álbum de Ozzy ela soa totalmente deslocada, ainda mais porque o Madman é um coadjuvante na canção, que tem claramente Malone como protagonista. Talvez “Take What You Want” chame a atenção de uma nova geração de ouvintes para o trabalho de Ozzy, já que Post Malone é um dos nomes mais populares do pop atual, mas o fato é que a canção soa totalmente à parte de tudo que veio antes em Ordinary Man.
Um ponto que precisa ser mencionado é que a produção é muitas vezes exagerada, com timbres plastificados e artificiais, e o vocal de Ozzy soa quase como uma caricatura em diversos momentos. Porém, devido à toda contextualização sobre o momento atual do vocalista, Ordinary Man me parece muito mais como um grito de “ei, ainda estou vivo e produtivo” do que um disco que chegaria para bater de frente com obras inquestionáveis como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a Madman (1981) e No More Tears (1991).
Ainda que irregular e com falhas claras, Ordinary Man mostra que Ozzy segue como pode e do jeito que dá. E, a essa altura do campeonato e com tudo que está acontecendo em sua vida, isso é o mais importante.
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