Ano: 2023
Selo: Warp
Gênero: Eletrônica, Trance
Para quem gosta de: Arca e SOPHIE
Ouça: Nobody Else, Yxguden e Xkyrgios
No início da década passada, Evian Christ se transformou em um dos produtores mais requisitados da indústria da música. E não poderia ser diferente. Utilizando de uma abordagem que destacava a força das batidas, o artista inglês foi convidado a colaborar com nomes de peso como Danny Brown, Tinashe, Travis Scott e Kanye West, com quem atuou durante as gravações do cultuado Yeezus (2013). Mesmo com toda essa movimentação, Christ se manteve bastante discreto em relação ao próprio trabalho, surpreendendo vez ou outra com o lançamento de algum registro, como a bem-sucedida mixtape Kings and Them (2012).
Mais de dez anos depois de ser apresentado, o produtor britânico entrega ao público o primeiro trabalho de estúdio da carreira, Revanchist (2023, Warp). Entretanto, diferente do material revelado no início da década passada, em essência voltado ao instrumental hip-hop, Christ se aventura agora na formação de repertório calcado no resgate da música trance. As batidas, sempre tão características do artista, ainda estão presentes. A diferença está na formatação adotada pelo britânico que deixa de lado o reducionismo de outrora para investir em um resultado grandioso e que aponta diretamente para as pistas de dança.
Claro que essa busca de Christ por novas possibilidades em nenhum momento distancia o produtor do repertório entregue nos antigos trabalhos. Exemplo disso pode ser percebido na própria composição de abertura, On Embers. São pouco mais de cinco minutos em que o artista se concentra na formação das batidas, ruídos e texturas sintéticas de forma sempre catártica. É como um exercício de transição que resgata uma variedade de elementos originalmente testados em Kings and Them e toda a série de faixas reveladas ao público no começo dos anos 2010, porém, partindo de um turbulento toque de renovação.
Uma vez ambientado ao novo território criativo proposto pelo artista, cada nova composição potencializa esse resultado. Exemplo disso fica bastante evidente em Yxguden, música que ganha forma aos poucos, sem pressa, mas que explode em uma deliciosa combinação de batidas e vozes assumidas pelo rapper sueco Bladee. Um misto de passado e presente que vai da produção eletrônica dos anos 2000 à euforia proposta por SOPHIE e outros nomes do hyperpop. De fato, muito do que encontramos em Revanchist soa como uma interpretação menos paródica daquilo que Danny L Harle apresentou em Harlecore (2021).
Em geral, são canções que começam pequenas, destacando o uso atmosférico dos sintetizadores, mas que aos poucos abrem passagem para a formatação de batidas secas que se completam pelo sempre calculado uso das vozes. Entretanto, longe de um resultado talvez formulaico, Christ se permite brincar com as possibilidades durante toda a execução do material, como em Nobody Else, composição que se projeta de forma bastante imediata. Outra que chama a atenção é a potente Xkyrgios, música que deixa o trance de lado para incorporar elementos de jungle, proposta que amplia consideravelmente os limites do trabalho.
Verdadeiro exercício de estilo sem necessariamente corromper a identidade artística do produtor inglês, Revanchist destaca a capacidade de Christ em transformar um gênero historicamente desgastado no principal componente criativo do trabalho. Com exceção de canções como as atmosféricas The Beach e Run Boys Run, que soam de maneira deslocada, como pequenos excessos dentro do material, tudo se resolve de forma atrativa. São batidas e bases sintéticas que convidam o ouvinte a dançar na mesma medida em que evidenciam diferentes camadas, texturas e vozes que destacam o refinamento de Christ.
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