Mesmo a terminar o ano de 2019 chegou-nos via correio um belo presente de Natal.
É caso para se dizer “Já estava na hora!”. Madalena Palmeirim tem andado sempre por aí, participando em projectos múltiplos de ou com outros, colaborando com Francisca Cortesão nos seus Minta & The Brook Trout, juntando-se à trupe dos They’re Heading West, fazendo dupla com João Teotónio nos L Mantra ou cantando uma calma versão de “Winter’s Blues” dos Sonic Youth com os Yu John. Antes disto tudo lançou com o seu irmão Bernardo um projecto denominado Nome Comum, através do qual se lançou um EP (A Quem Possa Interessar, 2011) e um longa duração (Cuco, 2013). Com toda esta experiência acumulada, eis que saiu, no finalzinho do ano passado, o seu primeiro disco em nome próprio, este Right as Rain.
Madalena, que sempre soube escolher bem de quem se rodear, usou esse mesmo poder para construir o disco, tendo convocado para o mesmo artilharia da pesada dos meandros da cena alternativa portuguesa – David Santos, Francisca Cortesão, Carlos Barretto, Mariana Ricardo, para além do cantor brasileiro Momo e do seu primeiro impulsionador de sempre – o já acima referido irmão mais velho, Bernardo Palmeirim. Com este elenco criou uma bela mistura entre músicas cantadas em português e inglês, e ainda uma em criolo (“M’ Câ Sabê”), inspirada por tempos passados em Cabo Verde.
A introspeção domina a toada do álbum, os nomes das canções falam-nos de embalar, quem dorme, solidão, dream away, tudo ligado portanto a um estado no limbo entre o acordado e o adormecido, sendo a morna a mais mexida. Mesmo “a alegria da Catarina” é sonorizada de uma forma dissonante relativamente à letra, um folk tristonho à la Joan Shelley ou Florist, dois nomes que editaram excelentes discos neste campo em 2019.
A herança da família, toda ela criada ao piano, está portanto, em boas mãos. Apesar dos dedos não exercerem hoje em dia muita pressão sobre as teclas do mesmo, o dedilhar na guitarra ou ukelele ou cavaquinho mostram que o importante está lá – a alma e a vontade de criar.
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