Na ativa desde o final da década passada, o DarkTower é um dos principais nomes a emergir da cena underground do Rio de Janeiro para o resto do país e do mundo, e dentre tantos que surgiram e desapareceram naquele meio é bastante louvável o fato deles terem seguido em frente com confiança inabalável na sua proposta musical inteiramente dedicada ao metal extremo – um estilo que, apesar de estar na maioria das vezes longe dos holofotes, conta com uma base de fãs fiel e bastante sólida.
Obedientia é o terceiro álbum de estúdio dos cariocas, e talvez seja o mais maduro trabalho apresentado pela banda até agora. O que chama a atenção logo de cara é o fato de que desta vez, muito mais do que antes, o conteúdo lírico traz um reflexo direto do conturbado momento que o Brasil (e também, de certa forma, o restante do mundo) vive nos últimos anos, e encontra aqui uma espécie de tradução bem pertinente em forma de música. Um notável caso bem similar foi outro lançamento deste mesmo ano: The Heretics, do Rotting Christ, onde também fica clara uma mensagem contra as figuras e instituições autoritárias e obscurantistas que parecem envolver a humanidade mundo afora. Dito isso, vale também tomar nota que Obedientia foi masterizado por George Bokos (ex-guitarrista do Rotting Christ e proprietário do Grindhouse Studios em Atenas, que também já havia trabalhado previamente com a banda em Eight Spears, de 2016), o que por si só já confere um certo “selo de qualidade” ao trabalho em se tratando do estilo em questão.
O álbum abre com a bela instrumental acústica “Punishment”, que serve como um mero prelúdio para a massiva “Downfall”, faixa essa que dá o tom do restante da obra e sintetiza muito bem o som da banda: uma mistura demolidora, porém muito bem trabalhada, de black e death metal. “God Above Nothing” vem na sequência e é a canção que melhor representa o álbum, trazendo o seu recado de forma bem clara já no título, e também é a dona do melhor refrão do trabalho. Após essa sequência inicial impecável chegamos a “Highland Ceremony”, um interlúdio instrumental que começa com uma tranquila melodia indígena e termina com sons de um violento conflito na floresta, mais um prelúdio para outra faixa avassaladora: “Winged Snake’s Communion”, canção que narra a luta do povo Cañari (oriundo do Equador) contra a opressão da antiga colonização espanhola, embalada por um ritmo mais cadenciado que no começo chega a lembrar até um pouco Testament (o que também não é uma surpresa, uma vez que é outra banda com canções que relatam a luta dos povos indígenas do continente americano) e conta com um certo tom mais épico, com direito a um belo solo melódico de guitarra.
“Praxis Against Ignorance” é uma verdadeira mensagem de perseverança na busca pelo conhecimento, mais uma vez num ritmo mais cadenciado, que inclui excelentes solos de guitarra e uma interessante (porém breve) passagem instrumental que evoca até um tom meio progressivo e moderno. A faixa-título traz elementos sinfônicos e também do thrash metal – uma característica que já dava as caras desde os primeiros trabalhos da banda – numa canção que segue bem à risca parte da cartilha do metal extremo, com direito a uma letra denunciando a alienação causada pelas religiões, mas ainda assim está num nível bem acima da média.
“Rites of Conscience” é uma espécie de visceral ode ao renascimento, contando com vocais rasgados narrando um místico processo de transformação com furiosos blast beats ao fundo, numa atmosfera que evoca uma espécie de “ordem vinda do caos”. “The Carnal Splendour” começa de maneira majestosa antes de explodir numa verdadeira espiral descendente de violência sonora que narra um ritual pagão, e que bebe evidentemente da fonte do Behemoth, sendo comparável ao que eles fizeram de melhor durante os anos 2000. Finalizando o álbum da mesma forma que começou, temos outro belo número instrumental: “...As the Obedient Marches to the Abyss...”, dando assim a sensação da conclusão de um verdadeiro ciclo.
Superando todo e qualquer desafio, os cariocas do DarkTower nos convidam a refletir sobre a ignorância e a apatia de nossa época e encerram a década apresentando mais um excelente trabalho, que prova que o metal extremo é a trilha sonora perfeita para tempos sombrios – lírica e musicalmente.
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