terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Jefferson Airplane – Volunteers (1969)


Com a ajuda de ilustres convidados como Jerry Garcia, David Crosby ou Stephen Stills, os Jefferson Airplane gravam o disco mais político da sua carreira. Mensagens anti-guerra, pró-anarquia e de responsabilidade ecológica pincelam este Volunteers, um álbum à altura do tumulto que pautou o final dos anos 60.

O quinto longa duração dos Jefferson Airplane foi o último com a formação clássica original. Marty Balin, vocalista e Spencer Dryden, baterista, deixariam a banda no ano seguinte, Jorma Kaukonen e Jack Casady encontrariam no seu projecto paralelo, Hot Tuna, um porto de abrigo, enquanto Grace Slick e Paul Kantner celebravam o nascimento da sua filha China com a edição de Sunfighter. No entanto, apesar destas contrariedades, esta é uma despedida feliz de uma das bandas chave do movimento psicadélico e de contra-cultura norte americano.

Para além da banda, já por si extensa, Volunteers ainda conta com uma pequena ajuda de alguns amigos. Jerry Garcia toca a sua pedal steel na country “The Farm”, Stephen Stills colabora nas vozes e órgão Hammond em “Turn My Life Down”, enquanto Crosby, também com Stills, ajudou a escrever “Wooden Ships”, durante um passeio no seu barco. A canção, emblemática dos anos 60, também foi gravada para o primeiro disco dos Crosby, Stills & Nash, igualmente lançado em 1969. De realçar a participação do mago das teclas, o britânico Nicky Hopkins, dando uma textura muito própria ao álbum.

O som de Volunteers é reflexo do seu tempo. Enquanto o psicadélico e excelente Surrealistic Pillow tinha uma visão mais optimista e inocente da geração hippie, este trabalho, gravado apenas dois anos depois, revela uma projecção mais cínica e de luta contra o status quo (guerra do vietname, direitos raciais e sensibilização ecológica).

O álbum, que gerou logo controvérsia pelo seu nome original (Volunteers of Amerika, prontamente atacado pela organização), começa com a estupenda “We Can Be Together”, uma canção política e de movimento social que tinha as seguintes frases: “We are all outlaws in the eyes of America, In order to survive, We steal, cheat, lie, forge, fuck, hide, and deal, We are obscene, lawless, hideous, dangerous, dirty, violent, and young” e ainda “Up against the wall, Up against the wall, motherfuckers! Tear down the wall, Tear down the wall”.

Estas eram letras muito incendiárias para a visão optimista que tínhamos da geração dos anos 60. O pedido de uso de flores na cabeça e o movimento pacifista não tinham resultado e agora pedia-se anarquia, violência e revolução e só juntos esta geração teria futuro: “One generation got old, One generation got soul, This generation got no dissertation to hold, Pick up the cry, Hey now it’s time for you and me, Got a revolution”, escrevia Paul Kantner em “Volunteers”, a canção título que fecha o disco, usando a mesma matriz instrumental da música de abertura.

No miolo do álbum encontramos a banda super segura do seu som, seja no arranjo que Kaukonen fez da música tradicional “Good Shepherd”, indo buscar aquele estilo muito próprio das bandas da costa oeste dos EUA, ou então na belíssima “Hey Frederick”, que ilustrava, uma vez mais, o talento e poder da voz de Grace Slick, uma canção que desagua numa espécie de jam session, tornando-se na faixa mais longa de Volunteers, com mais de oito minutos.

Em 1969, o regresso às origens norte americanas começava a ver-se em imensas bandas e os Jefferson Airplane, reis do psicadelismo, acabariam por também não fugir a esse movimento, como podemos ver em “The Farm”, “Turn My Life Down” ou “Song For All Seasons”.

A meio de Volunteers, surge-nos a belíssima “Wooden Ships”, cantada por Grace Slick e Marty Balin. Se, porventura, a versão de Crosby, Stills e Nash foi a mais difundida e tornou-se um hino do final dos anos 60, a interpretação dos Jefferson dá-lhe um ar mais misterioso e devolve alguma justiça, pois ela também foi escrita por Paul Kantner.

O lado mais etéreo e psicadélico da banda regressa com a ecológica “Eskimo Blue Day”, onde Grace Slick repete, por diversas vezes, que as coisas humanas não interessam nada à natureza (“Doesn’t mean shit to a tree”). Uma torrente de emoção, na voz de Slick e na guitarra de Kaukoken, fazem desta uma das músicas mais pujantes da banda.

Volunteers é um álbum clássico em todos os sentidos da palavra. Desde a produção, aos instrumentos utilizados, à voz incrível de Grace Slick, sempre ajudada por Marty Balin e acabando na sua mensagem política, muito própria do tempo em que vivia mas que, de maneira alguma, podemos considerar desactualizada. Nunca será tão conhecido como Surrealistic Pillow mas, no seu conjunto, é, sem dúvida, um disco muito superior e indispensável para os fãs da década de sessenta.



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