terça-feira, 5 de dezembro de 2023

The Flying Burrito Brothers – The Gilded Palace of Sin (1969)


No fim dos anos 60, Gram Parsons abandona os Byrds, funda os Flying Burrito Brothers e cria o álbum-manifesto que inventou o country rock.

Na segunda metade dos anos 60, a pop move-se à velocidade da luz. Ainda a revolução psicadélica (de ’66 e ’67) brilhava, já ’68 e ’69 conspiram contra o seu futurismo radical. É o tempo do regresso às raízes, convocando, de novo, a simplicidade da música tradicional americana. Assim nasce o country rock, que mais não é do que country tocado e subvertido por bandas vindas do rock. Na altura, foi um casamento escandaloso, a contracultura de mãos dadas com os “reaças”, os hippies beijando na boca os rednecks. Renegados por ambos os lados, pagam um preço alto: as rádios rock não passam porque é careta, as rádios country não passam porque são “drógádos”.

É difícil dizer quem fundou o country rock. Mas se dissermos que foi Gram Parsons não estaremos muito longe da verdade. Desde muito cedo que Parsons tinha a visão de uma “música americana cósmica”, fundindo o country, o rock psicadélico e o R&B.

A sua primeira tentativa foi através dos International Submarine Band, dando ao mundo, em ’68, o seminal Safe at Home.

No mesmo ano, entra para os Byrds, supostamente como mero teclista. Mas a sua personalidade é tão forte que convence todos a fazer um disco country. Sweetheart of the Rodeo tem a sua marca inconfundível.

Irrequieto, Parsons abandona logo os Byrds, e leva o seu amigo Chris Hillman na bagagem. Juntos formam os The Flying Burrito Brothers, cujo disco de estreia, The Gilded Palace of Sin, sai no ano seguinte. Agora, sim, Parsons consegue dar inteiramente corpo à sua visão, com uma reinterpretação mais radical do country. A sensibilidade psicadélica está sempre implícita, e, de quando em vez, irrompe à superfície: uma distorção tripada da steel guitar ali, um fuzz raivoso da guitarra-ritmo acolá. O contraste entre as doces harmonias a duas vozes e os rasgos roqueiros dos instrumentos é o segredo desta influente pérola.

O título do disco anuncia o seu tema: o pecado. O tom é moralista como convém ao género, uma mistura de doce ironia com um genuíno amor à música country. Dylan é um admirador confesso, e a crítica consensual na aclamação. Só o público continua confuso, sem saber onde arrumar tão estranho bicho. Não importa. Como no primeiro dos Velvet, “50 compram o disco mas todos fazem uma banda”. A sua influência é enorme: dos Stones de Exile on Main Street aos primeiros discos do Neil Young, passando pelos deslavados Eagles, country rock canderel. De certa forma, é também o primeiro disco de alternative country, várias décadas antes de o termo ser cunhado. Nos anos 90, nomes como Frank Black, Bill Callahan, Uncle Tupelo, Wilco, Pavement ou Silver Jews continuaram, cada um à sua maneira, o projecto do mestre Parsons: reinventar o country com um filtro rock.

Parsons morreu cedo, aos 26 anos, de uma mistura fatal de álcool e morfina. Há qualquer coisa nele de Syd Barrett do country rock, na sua delicadeza, na sua aura, na sua inocência mágica. Como Syd, também ele tinha uma visão claríssima do que queria para a música. Dois anjos malditos que caíram demasiado cedo. Dois lastros criativos que perduram até hoje.



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