sábado, 13 de janeiro de 2024

FADOS do FADO...letras de fados

 



A Mariquinhas velhinha

Letra e música Pedro Fernandes Martins *Fado Marcelino*
Repertório do autor

A Mariquinhas velhinha
Vai pedindo por sustento
Mendigando, coitadinha
Sem ter casa e testamento


Ninguém sabe onde ela mora 
Diz-se que dorme no chão
Em cima de um papelão 
Até ao romper da aurora
Anda pela rua fora 
Repetindo a ladainha
Ajudem a pobrezinha 
Que já tem pouca saúde
E há sempre quem ajude
A Mariquinhas velhinha

Tem sempre a mesma rotina 
De não ter nada a perder
De só desejar morrer 
Por viver tão triste sina
Como já não é menina 
Poucos lhe dão alimento
E por dormir ao relento 
Não lhe resta quase nada
Vai vivendo desgraçada
Vai pedindo por sustento

A quem passa estica a mão 
Pede à porta do mercado
E quando este está fechado 
Vai prá porta da estação
Com as esmolas compra pão 
Mais uma sopa quentinha
E quando cai a noitinha 
Deita-se no papelão
Vive nessa condição
Mendigando, coitadinha

Pouco resta do passado 
Ficou, talvez, a saudade
Que não traz felicidade 
Porque tudo está mudado
Pobre mulher, mas que fado 
Anda à mercê do tormento
Ao sol, à chuva, ao vento 
Vive com essa má sorte
À espera da sua morte
Sem ter casa e testamento

À memória de Anarda

Bocage / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Carlos do Carmo

Já de novo a meus olhos aparecem
A graça, o riso, as flores da alegria
Já na minha teimosa fantasia
Cuidados que velavam, adormecem

Nascemos para amar, a humanidade
Vai tarde ou cedo, aos laços da ternura
Tu és doce atrativo; ó formusura
Que encanta, que seduz, que persuade

A frouxidão no amor, é uma ofensa
Ofensa que se eleva a grau supremo
Paixão requer paixão, fervor extremo
Com extremo fervor se recompensa

Se um celeste poder, tirano e duro
Às vezes, extorquisse as liberdades
Que prestava, ó razão, teu lume puro?

Não forçam corações, as divindades
Fado amigo não há, nem fado escuro
Fados, são as paixões, são as vontades


A menina do mirante

Henrique Rego / Popular
Repertório de Alfredo Marceneiro 


Menina lá do mirante
Toda vestida de cassa
Deite-me vista saudosa
E um adeus da sua graça

A menina é o retrato 
Sem mesmo tirar nem pôr
De quem me prendeu de amor
Nas festas de São Torcato;
Tem mesmo um olhar gaiato 
Expressivo, embriagante
E essa boca insinuante 
Onde a alegria perdura
É romã fresca madura
Menina lá do mirante

Anda a brisa, com desvelo 
Perfumada a lúcia-lima
A saltitar-lhe por cima 
Dos anéis do seu cabelo;
Abençoado modelo 
De mulher da minha raça
Pois toda a gente que passa 
Olha os céus e diz ao vê-la
A menina é uma estrela
Toda vestida de caça

Ó meu amor vá um dia 
À minha terra e verá
Que do seu mirante lá 
É um voo de cotovia;
Verá como se extasia 
Ante a paisagem formosa
Que se estende graciosa
Num encanto sem limite
Caso aceite o meu convite
Deite-me vista saudosa

No domingo há procissão 
Com andores dos mais ricos
Bodo aos pobres, bailaricos 
Fogo preso e animação;
Lá encontra um coração 
Que de amor se despedaça
Portanto, a menina faça 
Esse coração vibrar
Dando-lhe um simples olhar 
E um adeus da sua graça





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