quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Jakuzi – Fantezi Müsik (2017)


Antes de mais, o synthpop turco é real. Fugiu para o mundo da luz em 2017 com Fantezi Müsik e está aqui.

O duo turco de Taner Yücel e Kutay Soyocak, ambos de Istambul, fundaram a banda em 2016 com toda a estética dos anos 80. Alguns coleccionadores de discos já sabem que o mundo do funk e psicadélico turco é apetecível e há DJs que em Portugal se pelam para passar álbuns desses, mas depois do golpe militar de 1980 a influência musical ocidental foi secando nas terras do Bósforo e no resto da Turquia.

Como se pode ver por este primeiro disco do duo, o underground turco existe e sabe o que se passa no resto do mundo. Rapidamente a banda afasta qualquer ideia de conteúdo político, como se a sua existência não o fosse já, numa terra em que como os artistas internacionais a quererem visitar o país são escassos, abre um espaço natural para os compositores locais.

O disco é contagiante e fácil de ouvir, longe de qualquer entendimento de turco, resta-nos apreciar a sonoridade. O disco abre com uma animada “Geriye Dönemiyor”, em que alguns versos pontuam a onda darkwave da faixa, também a lembrar algum bom krautrock. Em “Bir Dü?man?m Var” há saxofones, vozes de crooner à Bryan Ferry e todo um vibe de Roxy Music. “Istedi?in Gibi Kullan” e “Hiç Mi Yok”  já são mais pop e dançáveis, a última delas com direito a refrão de ficar na cabeça e tudo. É um conjunto que acaba por sempre soar devidamente ao estranho que é, sem o ser realmente. A mistura, a capa (que de tão bizarra chega a ser quase impossível não fixar atentamente) e todo o disco fluem numa mistura de vários ingredientes que combinam brilhantemente de uma forma pouco consensual, não por ser cantado em turco mas pelas várias influências que transparecem.

“Lubunya” é de uma forma velada uma piscadela de olho à cultura LGBTQ, sempre sem pisar o risco de confusão com uma mensagem política mas a criar uma ideia de identificação com uma comunidade que, como sabemos, raramente é vista com bons olhos numa região do mundo em que se mantém num underground como aquele em que florescem bandas de synthpop que conseguem lançar discos com capas de fundo amarelo onde um homem tatuado e de coroa de flores pelas costas sorri, envergando uma máscara de cabedal preto. Específico mas real em Istambul.

Üstüme Gelme” atira-se a sonoridades europop como uns Depeche Mode em início de carreira, com sintetizadores agudos a fazerem a frase musical.  A penúltima faixa do disco, “Koca bir saçmal?k”, lembra estranhamente Future Islands misturado com a “Ciclones” dos GNR, que não penso terem chegado à Turquia e em “Yine Ayni ?eyi Yapt?m” há um jeito de David Bowie, com aquela entrega vocal típica, meio displicente e pensativa, sempre com a voz grave de Kutay Soyocak a dar um toque extra a qualquer casa onde este “Fantezi Müsik” toca.


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