The Raconteurs – Help Us Stranger (2019)

 

No seu primeiro disco em 11 onze anos, os Raconteurs de Jack White continuam deliciosamente anacrónicos e dão-nos um belo trabalho de rock clássico

Desde que os White Stripes chegaram ao mundo, Jack White nunca mais parou, realmente. Essa banda marcante finou-se, veio uma carreira a solo, vieram novas bandas e novos projectos, os Dead Weather e estes The Raconteurs. Junte-se a produção de discos para outros artistas, colaborações e a gestão da sua recomendável Third Man Records, e completa-se o panorama de um homem em passo acelerado.

No meio do turbilhão, os Raconteurs foram ficando algo esquecidos, depois dos dois primeiros discos, de 2006 e 2008. Para os mais desatentos, nem sempre é fácil perceber as diferenças estilísticas entre as várias encarnações de White, mas os Raconteurs sempre representaram uma maior ligação a uma tradição de rock clássico. E é isso que temos neste Help Us Stranger, com um nível de qualidade que aplaudimos.

Temos o rock de guitarras aceleradas de “Live a Lie”, “Sunday Driver” ou da fantástica “Bored and Razed”, com deliciosos toques de southern rock; temos as baladas semi-acústicas com a marca de White, como “Only Child”ou “Now thar you’re gone”; temos os ecos do Delta do Mississipi em estado catatónico de “Hey Gyp”. Temos, no fundo, todas as diferentes coordenadas da carreira deste músico, que nos Raconteurs divide boa parte das despesas de escrita com Brendan Benson. Aqui e ali, até espreitam resquícios do experimentalismo que Jack White explorou no seu polémico e aventureiro disco a solo do ano passado, Boarding House Reach, que dividiu fãs e crítica. Mas essa é a excepção. Help Us Stranger não é um trabalho em busca de um futuro ou de um qualquer caminho desconhecido. A ideia é percorrer o velho trilho do rock n roll, e nisso é-nos apresentado um disco robusto, variado e que nos provoca a sempre agradável vontade de irmos conduzir um bocado movidos pelo seu som.

Quem está à procura do cool e da novidade pela novidade, escusa de ouvir. Quem quer um bom e sólido disco de rock clássico, muito bem feito em 2019, tem aqui uma boa rodela para saborear.