quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Solange – A Seat at the Table (2016)


 

O ponto de viragem na carreira de Solange, afastando-se do R&B comercial dos seus dois primeiros discos, e fazendo aquilo que sabe fazer melhor: um R&B alternativo e vanguardista, quase anti-pop.

A ironia é que é justamente quando confronta as expectativas da indústria que alcança maior sucesso. O arrojo criativo compensa muito mais do que se pensa.

As canções são lentas e contemplativas. O que não quer dizer que não tenham groove, que os ritmos quebrados estão lá na mesma; mas o balanço é agora mais abstracto, mais destinado a abanar ideias do que ancas.

Menos é mais. O grande feito deste disco é depurar o R&B até à sua essência. O resultado é de uma requintada elegância, em que cada instrumento quase que pede desculpa por cada nota que ousa. As nossas orelhas agradecem a sensação de poderem esticar os pelos à vontade.

Depois vem a sua mágica leveza, como se toda esta música fosse feita de flocos de nuvens. A sua voz é suave como seda, e as harmonias vocais são puro algodão doce. O piano, o baixo e a bateria também calçam as pantufas, não vão os miúdos acordar.

Esta leveza não é fortuita, tem a função de fazer sobressair o peso do tema: a condição da mulher negra, numa América ainda estruturalmente racista. O testemunho dos próprios pais de Solange é trazido para o disco, enfatizando esta afirmação de black pride.

A música negra americana nunca deixou de evoluir. Marvin Gaye iria gostar muito deste disco, não só pela radicalidade política, como também pela ousadia estética. Honrar Marvin não é ceder à imitação revivalista, mas sim manter o R&B como uma força viva. Justamente o que A Seat at the Table tão bem faz.



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