Cedendo de forma cada vez mais explícita aos seus excessos progressivos, John Dwyer continua a perseguir a sua musa, arrastando os seus fãs a bem ou a mal.
Se há coisa que tem sido consistente nos últimos discos dos Oh Sees desde a sua última mudança de nome, é que as suas durações têm aumentado. Os cinquenta minutos de Orc, podiam ter sido melhor aproveitados, com mais solos e riffs e menos motorik. Smote Reverser, apesar de ser mais longo, faz um uso muito melhor da sua duração, e a sua hora parece justificada. Quando os Oh Sees nos brindaram com “Henchlock”, e a promessa de que Face Stabber teria mais músicas longas, a apreensão de alguns fãs parecia justificada.
Não que “Henchlock” seja uma má canção. Pelo contrário, é dos momentos mais inspirados do disco, com um teclado e saxofone jazzísticos a ramificar uma cama psicadélica como só os Oh Sees conseguem cozinhar ao longo das suas muitas secções. A atmosférica “Scutum & Scorpius”, a outra faixa estendida do álbum é também um ponto alto. Depois de um breve loop arpejante de sintetizador, um orgão enevoado transporta-nos diretamente para uns Genesis de 1972 com mais pirotecnia demoníaca.
É, estranhamente, nas músicas mais curtas que vemos a nossa paciência ser testada. “The Daily Heavy”, que abre o disco, podia ter mais algo a acontecer para justificar os seus sete minutos. Verso->Solo->Verso->Solo pode parecer uma estrutura interessante na teoria, mas chega a um ponto em que começa tudo a soar um bocado ao mesmo. Quando chegamos a “S.S. Luker’s Mom” é difícil distingui-la do que a precedeu e do que a vai suceder, o que é uma pena pois, quando ouvida em isolado, até é uma canção engraçada mas que é completamente afogada num álbum desta dimensão.
Em compensação, Face Stabber vê o grupo a utilizar músculos que nem nos lembrávamos que tinham. Se o devaneio ambiental de “Captain Loosely” está bem conseguido ou não, isso dependerá da boa vontade do ouvinte, mas é refrescante ver uma banda continuar a explorar sonoridades diferentes no seu vigésimo segundo disco. O alinhamento do disco também está cuidadosamente arquitetado. Por cada excesso de exploração psicadélica, temos uma ou duas pepitas a trazer-nos de volta à Terra, como é o caso do punk idiossincrático da faixa-título e de “Gholü” ou da agressão thrash metal de “Heart Worm”, uma canção que soa tão imponente como a capa do disco anterior do grupo.
Face Stabber vê John Dwyer a explorar a veia progressiva dos Oh Sees como nunca antes, cavalgando para o precipício a passos largos. Sem mais ideias na mesa ou alguma contenção, é difícil saber se os Oh Sees ainda estão para nos brindar com a sua obra prima de rock progressivo-psicadélico-kraut ou se estão prestes a colapsar com o peso da sua ambição.
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