quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Abba “The Visitors” (1981)


  Editado em 1981 representou o ponto final de um primeiro ciclo na obra dos Abba, revelando um clima mais melancólico e canções menos imediatas.

Hoje sabemos que não foi este o ponto final. A edição, em 2021, de Voyage, tirou a The Visitors o rótulo que, durante 40 anos teve, de ser o derradeiro álbum dos Abba. Mesmo assim, e olhando para o arco que o grupo traçou entre o single de estreia em 1972 (ainda assinado com o nome Björn & Benny, Agnetha & Anni-Frid) e a pausa que chegou após Under Attack (single lançado em dezembro de 1982), em The Visitors podemos atribuir características claramente distintivas face ao que antes acontecera, revelando uma coleção de canções nem sempre tão imediatas, mais elaboradas nos arranjos (onde os sintetizadores ganhavam maior presença) e com temáticas que traduziam tempos de melancolia, separação e transformação, afinal, ecos das vidas pessoais dos próprios quatro elementos do grupo, outrora dois casais, mas já separados quando estas canções começaram a ganhar forma.

Já havia sinais deste clima em canções anteriores no alinhamento do anterior Super Trouper. Porém a luminosidade mais festiva que ainda caracterizava parte do alinhamento desse disco de 1980 mostrava-se mais pálida e discreta, tanto que Two For The Price of One, o momento mais próximo do cânone pop dos Abba não foi tido em conta na hora de escolher os singles, cabendo o papel de revelar o álbum a One Of Us, canção onde se fala do fim de um relacionamento e que deu aos Abba o seu último grande êxito global, estatuto que já não abraçou Head over Heels, canção menos carismática escolhida depois como segundo 45 rotações daqui extraído. Na verdade, e ao invés de álbuns como Arrival (1976) ou Voluez Vous (1979), cujos alinhamentos pareciam verdadeiras compilações de “greatest hits”, The Visitors define mais claramente a ideia de uma coleção de canções onde que resultam como um todo, coerente e coeso, abrindo com o tema título que sugere uma construção progressiva de acontecimentos e depois inclui momentos não menos belos como I Let The Music Speak, Like an Angel Passing Through My Room (que anos depois seria brilhantemente recriada por Anne Sofie Von Otter e Elvis Costello), Slipping Through My Fingers, Soldiers ou When All is Said And Done (e aqui quase se podia ler uma ideia de missão cumprida).

O disco começou a ganhar forma em sessões de trabalho em março de 1981, semanas depois de anunciado o divórcio de Benny e Frida (Björn e Agnetha tinham-se separado no ano anterior). O ambiente não seria o melhor, mesmo assim o trabalho avançou e duas das canções (Slipping Through My Fingers e Two For The Price of One) foram estreadas num programa de Dick Cavett em abril, ou seja, meses antes da chegada de One of Us a single (em dezembro). Os trabalhos começaram usando tecnologia analógica mas acompanharam depois a transição dos estúdios para novas máquinas digitais. 

Na hora de criar a imagem para a capa escolheram uma sala no Atelje Studio. Porém, apesar da presença da pintura de Johan Kronberg, cada um lança o olhar para azimutes diferentes. Sem o imaginarem estavam a definir caminhos, já que, em 1982, Frida lançaria um disco a solo e Benny e Björn focariam atenções na escrita do musical Chess. Agnetha tinha já lançado um álbum de Natal em 1981… Ainda chegaram a gravar material para um eventual novo álbum, mas as sessões deixaram apenas surgir dois novos singles (e respetivos lados B) criados para acompanhar um “best of” lançado em finais de 1982, só anos depois se conhecendo outra canção entretanto gravada em sessões que acabaram assim interrompidas com uma pausa que acabaria por durar 40 anos.




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