Haverá, em 2019, lugar para o rock? Os Blacks Keys chegam-se à frente e dizem presente! Let’s Rock é um regresso à forma de uma banda que recusa a derrota da música das guitarras.
A banda de Dan Auerbach e Patrick Carney já anda nisto há muito tempo. Nos moldes da indústria de hoje, diríamos até que já são jurássicos. No entanto, a verdade é que o seu som sempre foi consistente, mesmo com Turn Blue, visto, para alguns, como um certo piscar de olhos ao lado comercial, do tipo: olhem para nós, também fazemos música menos alternativa. Porém, é incorrecto dizer que Turn Blue e os próprios Black Keys estavam a tornar-se nos próximos Kings of Leon. Nada mais errado. Apesar do ar galã de Dan Auerbach, este nunca ficou enfatuado com a fama e visibilidade que “Lonely Boy” trouxe à banda e, juntando a isto, a pronta negação de toda a indústria mainstream por parte de Carney, chegamos à conclusão que os Black Keys não são um banda para abandonar os seus princípios, mesmo que tenham feito um disco mais comercial.
É deste modo que chegamos a Let’s Rock, nono álbum de originais da banda originária de Ohio. Um disco que é, sobretudo, uma carta de amor ao género musical que mais apreciam – o rock n’ roll. Um amor que esteve cinco anos em águas de bacalhau após a edição de Turn Blue. No entanto, mesmo os melhores casamentos necessitam de algum espaço para respirar, e foi o que banda fez. Nesta metade da década em que estiveram afastados um do outro, ambos fizeram pela vida. Carney conheceu Michelle Branch, a sua mulher e a mãe do seu filho, enquanto produzia o seu disco Hopeless Romantic. Já Auerbach acabaria por lançar dois trabalhos: Yours, Dreamily, do projecto paralelo The Arcs e, em 2017, Waiting on a Song, o seu segundo álbum a solo.
Neste hiato de cinco anos, Patrick Carney temeu pelo fim da banda, alegando que o seu último concerto tinha sido em São Francisco, tendo o mesmo acontecido com nomes como os Sex Pistols, The Band ou os Beatles. No entanto, apesar dos temores do baterista, a longa pausa acabaria por ser benéfica para o duo que optaria por descartar a colaboração de Danger Mouse, produtor dos últimos trabalhos dos Blacks Keys, para serem os próprios a tomarem as rédeas do seu som. Deu-se um certo regresso às origens: guitarra, bateria e voz. De fora ficaram as teclas e outras sonoridades que, de alguma forma, marcaram demasiado Turn Blue. Patrick Carney encara, inclusivamente, Let’s Rock como uma homenagem à guitarra eléctrica.
A verdade é que neste novo trabalho dos Black Keys não encontramos nada tão brilhantemente dançável como “Lonely Boy” ou sexy como “Howlin’ For You” mas, enquanto outros discos tinham mais variações de intensidade, este prima pela constância e, do início ao fim, não há uma única música que achemos que ao cabo de algumas audições já ficará demasiado gasta, apesar da fórmula empregue em Let’s Rock não ser, de todo, original. Contudo, o duo mostra que, quando o jogo lhes é favorável (blues, garage e o velho rock n’ roll), a vitória é inevitável e este trabalho é um exemplo disso. Como tal basta colocarmos o disco a tocar e “Shine a Little Light” marca o primeiro golo. Começa com uma linha de guitarra decidida, enquanto Carney acompanha com um pedal acertado. À primeira música, os Blacks Keys têm o jogo controlado, ficando os restantes 36 minutos do disco a cargo de outras malhas que só não dão goleada porque a banda assim pareceu não querer. Entre os solos de “Eagle Birds” e “Get Yourself Together”, passando pela bateria de “Lo/Hi” e “Go”, conseguimos ver que o duo Carney/Auerbach joga de olhos fechados.
Embora pouco inovadores, os Black Keys voltaram em grande forma. Vieram, sobretudo, relaxados, rejuvenescidos e pouco preocupados com modas. Let’s Rock é um álbum despido de grande ornamentos, directo e, essencialmente, contundente. Não há nenhuma faixa que passe a marca dos quatro minutos, o que beneficia o estilo da banda. Jams curtas, mas com tudo a que temos direito.
Um manual do que é um bom disco de rock!
Sem comentários:
Enviar um comentário