quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

The Divine Comedy – Office Politics (2019)


 

Neil Hannon chegou ao 12.º disco dos Divine Comedy com um sintetizador. Quis musicar um dia de trabalho numa qualquer mini-corporação britânica e saiu-se com um disco de humor refinado, meia-dúzia de ótimas canções e a reputação imaculada. Mas pouco mais.

Office Politics, assim se chama a novidade, tem algumas boas notícias: o conceito é bem esgalhado, há abordagens interessantes com que cada ouvinte se pode facilmente identificar e o humor e as letras satisfazem como de costume. Contudo, há também alguns lamentos: o disco é grande demais – 16 faixas – e, talvez por isso, particularmente desigual; há apenas meia-dúzia de canções memoráveis e só uma, “Norman and Norma”, pode ombrear com os melhores momentos do repertório passado.

Talvez tenha sido no Natal de 2018 que Neil Hannon recebeu um sintetizador como prenda. Não por acaso, há em Office Politics ecos de Kraftwerk (na faixa-título, por exemplo) ou, mais surpreendentemente, Tame Impala (!), em “Infernal Machines”. Neil Hannon trouxe novos elementos ao som dos Divine Comedy, iniciativa louvável – pena é que na maior parte das vezes não haja canções imensamente inspiradas que acompanhem esta evolução.

Já em Regeneration, de 2001, tinha havido uma mudança de rumo. Na altura, entrou em cena o produtor Nigel Godrich e o som dos Divine Comedy transformou-se: o faustoso, operático e maravilhoso Fin de Siècle, editado três anos antes, deu lugar a um disco mais introspetivo e melancólico – na altura a evolução não foi consentânea, como agora não o será também. Mas louve-se o risco de evoluir e fugir do cançonetismo mais clássico que pautou os discos editados entre 2001 e o novo Office Politics.

A obra do presente vale mais pelo imaginário que pelo conjunto de canções, é verdade, mas há ainda assim momentos que, individualmente, merecem carinho: “Norman and Norma” é o desafio do amor no trabalho e a canção mais convencional do disco. E a melhor. “The Life and Soul of the Party” é dos mais inspirados momentos eletrónicos da carreira de Neil Hannon, “When the Working Day is Done” é, como de costume nos álbuns desta rapaziada, um final de viagem muito recompensador.

Uma edição especial de Office Politics engloba ainda um segundo disco com momentos a piano e voz compostos por Hannon para uma peça no Royal National Theatre. Resumindo e concluindo: os fãs vão gostar, o conceito e o imaginário (inclusive a própria capa) são de pertinência elevada, o humor é, como de costume, refinado. Mas nova epifania fica guardada para uma próxima.



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