sábado, 30 de março de 2024

Jasmim – O Culto da Brisa (2019)

 

Culto da Brisa é o primeiro disco a solo de Martim Brás Teixeira, que assina como Jasmim. O teclista dos Mighty Sands dá largas ao seu espírito criativo e apresenta um disco coeso para passar a tarde num jardim.

O folk psicadélico de Jasmim é ideal para um dia calmo e contemplativo e mostra que Brás Teixeira procura um espaço diferente do universo sonoro dos Mighty Sands. É de louvar a tentativa que leva a cabo neste Culto da Brisa, liricamente bastante sólido e com bons momentos, como em “Mora” e especialmente em “Aqui, Agora”.

Jasmim deixa ecoar a sua voz suave pelos ambientes do disco (algo que talvez já se possa chamar estilo Maternidade) e embala-nos na viagem primaveril que começa em “Erosão”, com os instrumentos de sopro a comandar sinuosamente a música. Os sopros serão sempre uma constante em todas as faixas, a acompanhar a guitarra acústica neste Culto da Brisa.

Seguimos depois para “Vai Nascer”, num registo mais alegre que se mantém em “Dono da Razão”. Já “Inverno” começa com uma gargalhada tímida que incomoda com o seu ar inocente demais mas melhora substancialmente depois disso. Nada até aqui é surpreendente, até chegarmos ao bem conseguido “Aqui, Agora”. Neste que foi o primeiro e muito bem escolhido single a sair do disco, a certa altura ouvimos a frase “acima das possibilidades”. Este é um sentimento permeável por todo o álbum que, ao longo de nove canções suaves de pés descalços na relva, nunca chega verdadeiramente a inovar ou explorar a fundo na sua sonoridade.

A música mais forte, quer nas letras quer na composição, é mesmo este single, que soa mais cheio de vida do que o resto do álbum. Não quer isto dizer que é um disco terrível, é aliás nas letras que Jasmim deixa antever que podia dar mais largas ao seu ímpeto criativo, e espera-se que encontre o seu lugar definitivo num novo disco a solo. No trabalho anterior, o EP Oitavo Mar, já se desenhava este percurso de ecos e delays oníricos mas o novo disco não elabora muito mais sobre estes assuntos. O álbum é bastante coeso por todas as nove faixas e evoca imagens de raios de sol a permear por entre as copas das árvores, o que será a intenção de Jasmim neste Culto da Brisa. É pena que não almeje a mais.

Acima de tudo, é um disco para ser ouvido quando se está neste estado de espírito de passar a tarde no meio da natureza mas que funciona menos bem noutros ambientes e espaços não tão intimistas como o álbum nos leva a desejar. Como Jasmim canta, “não te cales meu irmão”. Espera-se mais num próximo disco.



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