sábado, 30 de março de 2024

The Leisure Society – Arrivals & Departures (2019)

 

Faz mais ou menos dez anos por estes dias que o mundo passou a conhecer os The Leisure Society, que agora regressam em dose dupla com Arrivals & Departures, e o mínimo que se pode dizer é que a forma e a substância que deram vida à banda está mais apurada do que nunca.  Uma boa chegada que não vai partir tão cedo dos nossos ouvidos.

The Leisure Society é aquele tipo de banda que não engana. Sabemos o que contar quando algum dos seus novos discos nos chegam às mãos. Não inventam muito, não arriscam grandemente, são fieis ao seu próprio som, não se desviam daquilo que sabem muito bem fazer. E se isso não é propriamente um grande cartão de visita (espera-se, muitas vezes, que o artista assuma novos caminhos, novas facetas, ou seja, que se aventure), também não deixa de ser um facto que mesmo não havendo surpresas nos seus trabalhos, eles soam sempre bem. São ideais para se degustar sem estarmos à espera de rasgos de génio, sem pensarmos que o disco que vamos ouvir poderá mudar-nos a vida. Também é bom haver bandas que se limitam a mostrar bons trunfos, sem terem necessidade de atirar para cima da mesa um royal flush, se é que me faço entender.

Arrivals & Departures é um álbum duplo de dezasseis canções. Oito num disco e dose igual no outro. Equilíbrio perfeito. Na capa, a imagem de um avião com o particular traço de Owen Davey (sempre ele). O mesmo acontece na contracapa. Uma de dia, outra de noite. O equilíbrio, de novo. E nas canções, a mesma harmonia, a mesma arte clássica das composições, tudo rigorosamente no sítio certo e no tom adequado. É difícil destacar um punhado delas, não porque não existam em quantidade, mas sobretudo porque o nível é muito semelhante, do princípio ao fim. No entanto, “God Has Taken a Vacation” acabará por ser a que, mesmo assim, parece revelar-se mais orelhuda. É um instant classic do grupo. Uma canção que começou por ser sobre a difícil separação do casal Nick Hemmings (guitarrista e vocalista) / Helen Whitaker (flautista em muitos dos discos da banda) e acabou por ser bem mais do que apenas a manifestação dessa dor sentimental. Mas há outras, evidentemente, e em todas elas o chamber pop dos The Leisure Society está bem vincado. Ouça-se, por exemplo, cada uma das seguintes canções: “I’ll Pay For It Now”, “Be You Wherever”, “Leave Me To Sleep” ou “Ways To Be Saved”. Mas se as preferências tenderem para uma vertente um pouco mais folk popArrivals & Departures também nos oferece uma boa mão cheia de temas. “Arrivals & Departures”, a composição que abre o álbum e lhe confere o nome, “A Bird, a Bee, Humanity”, “Beat of a Drum” e “Let Me Bring You Down” talvez sejam os melhores exemplos. Tudo, como já anteriormente referimos, mantendo uma identidade sonora muito rígida e quase inalterada em ambos os discos.

Como se percebe pelo que vai sendo escrito, Arrivals & Departures é um disco que aterra bem (era inevitável a brincadeira do uso deste e dos seguintes termos com a imagem da capa) nos nossos ouvidos, sobretudo se soubermos viajar nele como convém fazê-lo nos álbuns dos The Leisure Society. Ou seja, com a certeza de que, mesmo antes da viagem começada, o trajeto não terá turbulência digna de registo, nem qualquer tipo de agitação ou desassossego maior. Sempre foi assim com os  anteriores The Sleeper (2009), Into The Murky Water (2011), Alone Aboard The Ark (2013) e The Fine Art of Hanging On (2015), mantendo-se o mesmo com esta recente proposta dos homens da velha Albion. 




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