sábado, 4 de maio de 2024

Começar uma coleção: dez singles do movimento new romantic

 Um a um aqui vamos sugerir dez singles para quem quiser encontrar primeiras pistas para uma coleção de discos representativos do movimento “new romantic”. Memórias escolhidas e comentadas… a 45 rotações.

As primeiras movimentações (e até mesmo um primeiro single, Tar, dos Visage), datam ainda de 1979. Mas é com a chegada de 1980 que o “culto sem nome” como lhe chamaria nesse mesmo ano uma edição da revista The Face, ganha visibilidade. As suas raízes moravam entre o Billy’s e o Blitz, dois clubes na Londres de então, em noites que contavam com a música dos Kraftwerk, La Dusseldorf, David Bowie, Roxy Music, The Normal ou Ultravox por banda sonora.

Na pista de dança, gerida pelo DJ Rusty Egan, reencontravam-se gestos, poses e vestimentas que evocavam uma ideia de glamour que não se conhecia desde os dias do glam rock, porém segundo novos caminhos.

Apesar de “sem nome” por alguns tempos, o movimento acabaria reconhecido como new-romantic… Fez sobretudo história entre 1979 e 82, revelando nomes como os Visage, Duran Duran, Spandau Ballet, Classix Nouveaux, A Flock Of Seagulls e acolheu, pela música ou pela força da comunicação visual, bandas já com vida anterior, dos Adam and The Ants ou Landscape ou até mesmo, por um instante, os Japan (que não gostavam propriamente desta associação). Ao longo das próximos dias vamos aqui evocar episódios de uma história que marcou o panorama pop/rock há 40 anos. Dez singles para lembrar um movimento… Não necessariamente os mais raros nem os de maior sucesso. Mas dez singles representativos do que então aconteceu.

LANDSCAPE

“Norman Bates” (1981)

“Norman Bates” é na verdade o terceiro single (e o derradeiro) extraído do segundo álbum dos Landscape, mas ao invés das visões de maior protagonismo das eletrónicas que marcavam “Einstein A Go Go”, promove uma viagem sobretudo assombrada e plasticamente mais aproximada dos trilhos mais desafiantes de algumas pistas então igualmente seguidas pelos Visage ou Ultravox. Chegou ao Top 40 no Reino Unido mas acabou algo esquecido pelo tempo. O single representa ainda (mais) um episódio de relação da canção pop com os universos de ficção dos livros e do cinema, tomando como protagonista a figura de Norman Bates, criada por Robert Bloch e que Antony Perkins interpretou depois na adaptação de “Psico” ao cinema feita por Alfred Hitchcock.

A este single juntamos os outros que antes tinham já sido apresentados neste post:

VISAGE

“Visage” (1981) *

A escolha poderia ter recaído por qualquer das canções do álbum de estreia dos Visage, editado em 1980. Tar foi, em 1979, uma canção claramente desenhada para responder ao paradigma da ideia que dominava os DJ sets de Rusty Egan. Fade To Grey seria o êxito global nascido do alinhamento do álbum a que chamaram simplesmente Visage. Mas, editado já em 1981 (depois de Mind of a Toy escolhido como sucessor de Fade to Grey a 45 rotações), o tema que usava o nome da banda por título acabou por representar como que um manifesto das ideias em jogo (tanto na letra como na música), ainda por cima depois ilustrado com um teledisco com imagens captadas entre as noites onde o movimento havia nascido. No Reino Unido o single surgiu com duas capas distintas, uma com uma fotografia de Steve Strange com chapéu, uma outra (na imagem) com o seu rosto maquilhado com caracteres chineses.

* A canção surgiu em single apenas em 1981, mas na verdade data de 1980, ano em que surge como faixa de abertura do álbum “Visage”.

SPANDAU BALLET

“To Cut a Long Story Short” (1980)

A história dos Spandau Ballet remonta aos finais dos anos 70, sob outras designações. O nome surgiu já perto da viragem dos oitentas, numa altura em que, da convivência com a música de uns Kraftwerk e outras novas forças de uma pop que descobria as electrónicas emergiu uma música essencialmente centrada na exploração da percussão, suportada pelas teclas e com espaço para a voz projetada de Tony Hadley, secundarizando o papel da guitarra. Naturais de Londres, os Spandau Ballet tornaram-se frequentadores habituais das noites no Blitz e outros espaços onde emergia um culto ainda “sem nome”. Várias editoras bateram-se pela sua assinatura, tendo a Chrysalis conseguindo chegar a um acordo que logo os levou a estúdio, de lá saindo num ápice o single To Cut a Long Story Short canção que, juntamente com Vienna dos Ultravox e Fade to Grey dos Visage tornou visível (e com apetite mainstream) o que até então fora a aventura localizada e noturna do fenómeno que então emerge sob o rótulo new romantic. Poucos meses depois a canção surgiria no álbum de estreia do grupo, Journeys To Glory.

ULTRAVOX

“Passing Strangers” (1980)

No início de 1979 uma tabuleta de fim de linha parecia levantar-se frente aos Ultravox. Depois do fracasso do seu terceiro álbum, Systems Of Romance, a Island Records rompera o contrato. Auto-financiaram uma digressão americana, mas depois do último concerto John Foxx, o vocalista, partiu para uma carreira a solo. Robert Simon, o guitarrista, juntou-se pouco depois aos Magazine. De um projeto paralelo com qual na altura se envolve o baixista Chris Cross chega um novo frontman. E com Midge Ure à frente de uma nova formação – em quarteto – gravam o álbum Vienna, que imediatamente os projeta para outro patamar de visibilidade. As afinidades com o som que emergia nas Bowie Nights era evidente na linguagem desse primeiro álbum da nova etapa dos Ultravox que teve Sleepwalk como cartão de visita e, depois, um segundo avanço em Passing Strangers, canção em cujo teledisco o par que se junta ao grupo se apresenta com look que certamente lhes daria acesso às noites que tinham Steve Strange a ditar a política (visual) de quem ou não podia entrar.

DURAN DURAN

“Planet Earth” (1981)

Naturais de Birmingham, onde eram já nome de protagonismo evidente no Rum Runner, o clube que localmente traduzia ecos das movimentações que se desenhavam em Londres, os Duran Duram estavam, nos primeiros meses de 1981, a gravar o seu álbum entre sessões nos estúdios Red Bus, Utopia e Chipping Norton. Seis semanas de gravações, sob produção de Colin Thurston, engenheiro de som ligado às sessões de Heroes, de David Bowie e recentemente co-produtor dos Human League. Em Janeiro tinham gravado a sua primeira sessão para a BBC 1, registando em estúdio os temas Sound Of Thunder, Friends Of Mine, Anyone Out There e Careless Memories. A 2 de Fevereiro, com uma capa desenhada por Malcolm Garrett, era editado em single Planet Earth. Além da versão standard em sete polegadas, o grupo editou desde logo uma versão longa destinada às pistas de dança, na qual a matriz rítmica (de genética disco) é valorizada. Outra das novidades (além do máxi-single), foi o facto de desde logo o grupo compreender as potencialidades de uma ferramenta promocional emergente: o teledisco.

CLASSIX NOUVEAUX

“Tokyo” (1981)

Formados depois da separação dos X-Ray Spex, moldados não apenas pela presença da figura e voz do vocalista Sal Solo, mas também por um protagonismo das guitarras sobre os (também presentes) teclados, estabelecendo aí a maior das diferenças para com os Ultravox, Japan ou Visage, bandas que então eram as primeiras a obter reconhecimento entre os então chamados neo-românticos, os Classix Nouveaux entraram discretamente em cena com um primeiro single (Robots Dance) lançado na independente ESP Records em 1980. Apesar do alinhamento visual e musical com outros nomes do movimento, chamaram mais depressa atenções fora do Reino Unido, nomeadamente em Portugal, onde viveram tempos de sucesso maior entre 1981 e 1982. Tokyo foi um dos três singles extraídos do alinhamento de Night People, o álbum de estreia lançado em 1981, e na sua capa fica clara a adesão visual às linhas que definiam o sentido estético que brotara nas noites no Billy’s e no Blitz. O vigor do som e o apelo performativo do grupo na verdade só cativou os apetites britânicos com Is It a Dream, um single do segundo álbum, lançado já em 1982. Mas por essa altura o fulgor deste fenómeno estava já a desvanecer-se.


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