Desde 2014 que os nossos ouvidos conhecem Homeshake, o projeto musical de Peter Sagar.
Sagar não é um nome desconhecido na cena indie-pop. Importa não esquecer que o músico canadiano, numa fase inicial da sua carreira, ganhou popularidade por ter sido guitarrista na banda do seu compatriota, Mac DeMarco. No entanto, essa experiência foi curta, tendo o músico preferido abandonar o projeto de DeMarco de modo a concentrar-se estritamente na sua carreira individual.
Desde então, sob a alçada do seu nome artístico Homeshake, lançou quatro álbuns, sendo que o mais recente, Helium, foi lançado ao público no passado dia 15 de fevereiro.
Em cinco anos a sonoridade de Homeshake mudou por completo. Contudo, ninguém poderá ficar propriamente surpreendido com o caminho que o músico de Montreal traçou. É que hoje, In The Shower, lançado em 2014, parece ter sido lançado por um artista totalmente diferente daquele que, agora, lançou Helium. Acima de tudo porque, num curto espaço de tempo, a vontade musical de Sagar fê-lo abdicar de guitarras, de simples guitarras, para se focar, quase em absoluto, em sintetizadores.
Em projetos passados, o artista fez questão de admitir que, aquando das respetivas produções, esteve envolto tanto sobre influências de indie-pop como também de sonoridades R&B lo-fi. Em Helium, porém, Homeshake pretendeu criar um plano musical independente e a que só ao mesmo poderia pertencer. O resultado foi um LP constituído por 13 faixas, maioritariamente curtas e pouco desenvolvidas (talvez por terem sido esticadas, propositadamente, claro, num «loop» constante).
Ficamos com a ideia de que a sonoridade de Homeshake se condensou neste último projeto – isto porque em Fresh Air (2017) estava já num estado gasoso. Hoje, em 2019, a produção musical do canadiano liquidificou. A «solidez» de experiências anteriores (passível de ser encontrada, por exemplo, no já referido In The Shower) parece que se perdeu algures durante o ciclo criativo do canadiano.
Helium é um retrato fiel do «nada». (E isto é um elogio.) Este LP pode muito bem representar o conforto que o nosso quarto e a nossa cama constituem, da mesma forma que também pode ser o reflexo de um daqueles sonhos, que, na manhã seguinte, nunca sabemos muito bem se foi um recorte da realidade ou não.
Esta afigura-se como a altura ideal para referir que este é o primeiro projeto de Homeshake que não foi gravado em estúdio; o artista preferiu construir o álbum no interior do seu próprio apartamento.
O álbum inicia-se com a breve “Early”, composição curta, cuja função é a de introduzir a faixa seguinte, “Anything At All”. Se prestarmos atenção à letra dessa canção, facilmente percebemos a intenção do músico – reforçada ao longo de todo o processo de audição, que visivelmente prefere sair de casa, do «estático» das paredes do seu quarto, em vez de ficar temporadas preso ao ecrã do seu telemóvel.
Em «Like Mariah», Homeshake faz uma ode à cantora norte-americana Mariah Carey, artista que Sagar preza de tal modo que, em experiências anteriores, utilizou canções da mesma como samples para as suas próprias produções. Em “All Night Long” encontramos mais vestígios de um R&B próprio de Homeshake. Sensual, reconfortante. A faixa número sete, “Just Like My”, apresenta-nos um plano de solidão, o qual constrói praticamente todo o restante álbum. Nesta, na voz distante de Sagar, conhecemos um desconforto confortável, que tanto nos pode relaxar, como aumentar agudamente o nosso “aborrecimento” (aqui, refiro-me àquele aborrecimento que sentimos quando estamos trancados em casa há já muito tempo).
Ouvindo as restantes faixas do álbum, os nossos ouvidos vão continuar sintonizados na mesma onda. Em “Nothing Could Be Better”, “Other Than” ou em “Another Thing”, o registo não altera; continuamos enrolados nos edredões da mente de Homeshake.
Por fim, vale a pena desenvolver a última faixa, a número treze “(Secret Track)”, que funciona realmente como uma despedida do músico. Corresponde ao clímax das vibrações «dream-pop» e «bedroom rock» que nos levam a afogar durante todo o processo de audição do álbum.
O disco segue um padrão muito por próprio. É provável que o ouvinte mais desatento não consiga distinguir as diferentes músicas que constroem o esqueleto da produção. Ora, para uns, isso pode ser um entrave à apreciação do álbum. Para outros (como eu), isso pode funcionar como um aspeto positivo. O que é facto é que, com quatro álbuns lançados e com tantos outros anos de música, Peter Sagar já cimentou o seu lugar nesta secção da música, no universo alternativo.
Helium é um trabalho que merece ser escutado no mesmo contexto em que foi feito; em casa, entre lençóis, sonos e sonhos.
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