Houses of the Holy pode não ser tão poderoso como os dois primeiros discos, tão impactante quanto o terceiro ou repleto de clássicos como o quarto, mas o que lhe falta nessas características, compensa em variedade.

“No Quarter” não só é a melhor canção de Houses of the Holy, como é uma das melhores músicas dos Led Zeppelin. O que lhe garante, automaticamente, um lugar no panteão da música popular produzida no século XX.

Mas a penúltima canção do quinto disco dos Led Zeppelin é também uma entrada icónica no seu cancioneiro porque é um dos primeiros temas que tem como figura central John Paul Jones. Até Houses of the Holy poucas canções tinham como instrumento principal o órgão ou o piano (muito menos o baixo). Mas isso mudaria em 1973 com “No Quarter”.

Neste tema, Jones senta-se frente ao piano e toca uma melodia hipnotizante, cheia de reverberação, como se o som saísse de um berimbau. Depois entra a bateria que coloca em contraste o ritmo lento do piano com as batidas rápidas de John Bonham. A guitarra de Page surge cheia de distorção e depois Robert Plant começa a cantar num tom arrastado e carregado de eco. A canção prossegue com um ritmo lento ao longo de quase todos os oito minutos. E não devia ser nada fácil conter a garra daqueles quatro tipos.

A canção beneficia do tom langoroso que assenta perfeitamente com o poema sombrio escrito por Robert Plant sobre aqueles que “andam lado a lado com a morte” e que actuam “sem qualquer misericórdia”. Nunca os Zeppelin soaram tão sombrios como em “No Quarter”.

Mas não foi só neste tema que o grupo mostrou estar diferente. Desde os primeiros acordes de “The Song Remains the Same” dá para perceber que entre 1971 (data do quarto disco) e 1973 os Led Zeppelin já não eram a mesma banda. Para trás ficava a demarcada influência do blues para dar espaço para novas sonoridades surgirem.

Na primeira canção do disco somos apresentados a um tom mais solarengo e animado. E até no solo de guitarra Page deixa de lado a sua potência habitual (seria impossível pedir isso a Bonham) para dar lugar a um sentimento mais leve. A banda entrava numa nova era.

Houses of the Holy pode não ser tão poderoso como os dois primeiros discos, tão impactante quanto o terceiro ou repleto de clássicos como o quarto, mas o que lhe falta nessas características, compensa em variedade. Há baladas (“The Rain Song”), brincadeiras com o reggae (“D’yer Maker”), funks tocados por ingleses brancos como a cal (“The Crunge”) e rock progressivo (“No Quarter”).

E há também espaço para “Over the Hills and Far Away”, uma canção na senda de “Stairway to Heaven”, que começa com uma guitarra acústica e o acompanhamento vocal de Robert Plant, para depois dar entrada à banda inteira, já com a presença de guitarra eléctrica de Page. E não sendo tão memorável quanto a magistral “Stairway…”, “Over the Hills and Far Away” não deixa de ser uma bela canção pop. Mesmo que a Rolling Stone diga que seja lixo. Tss, tss, tss… Patetas.