Physical Graffiti é uma obra oriunda de um tempo em que o rock estava a começar a ficar aburguesado e as suas estrelas cada vez mais afastadas do público.

Em 1975, os Led Zeppelin continuavam a sua escalada até ao Olimpo do Rock. A 24 de Fevereiro chegava até ao público o sexto de originais: Physical Graffiti. Um disco feito de sobras de sessões de disco anteriores (nomeadamente de Led Zeppelin IV e Houses of the Holy) complementados por alguns temas gravados durante uma longa pausa nas digressões em 1974.

O duplo Physical Graffitti nasce assim: aos bocados. Um disco que mais que uma manta de retalhos musicais é uma obra que pretende colocar os Led Zeppelin num patamar diferente das restantes bandas de “Hard n Heavy” da época (nomeadamente os Deep Purple e Black Sabbath). Na verdade, a banda nunca se sentiu confortável quando os críticos os colavam ao som heavy metal.

Ao longo de toda a sua existência enquanto banda, os Zeppelin quiseram sempre ser recordados com uma banda eclética. Daí que muitos poucos esperassem que a seguir ao pesado Led Zeppelin II a banda enveredaria por caminhos mais folk no disco seguinte Led Zeppelin III.

Com Graffiti essa ânsia de agradar a vários públicos consumidores de vários estilos está bem patente, sobretudo no segundo disco. Embora os resultados alcançados variem muito. Mas já lá iremos.

A força, ou neste caso o rock musculado está obviamente no primeiro tomo. “Custard Pie” e “The Rover” são ótimas canções hard-rock. Os ingredientes do costume: riffs pesados de Jimmy Page, voz estridente de Robert Plant e uma secção rítmica de luxo composta por John Paul Jones e John Bonham a acompanhar.

Os momentos altos estão reservados para o funky “Trampled Underfoot”. Um tour-de-force quase dançável onde brilha o Clavinet de Jones e com algumas afinidades com o riff de “Superstitous“ de Stevie Wonder editado alguns anos antes em Talking Book. E claro, o magnânimo “Kashmir”, onde os Zeppelin nos remetem para os temas orientais (já explorados pelos Beatles). A canção ganharia contornos épicos ao vivo, com Jones e Page a soarem em uníssono quase como uma orquestra.

Além destas duas, destaque para o blues de “In My Time of Dying”. 11 Minutos de pura demonstração da técnica slide de Page e com Robert Plant a reinventar o gospel original de 1928 de Blind Willie Johnson – “Jesus Make Up My Dying Bed” – para algo muito mais poderoso, muito próximo daquilo que eles também conseguiram em “When the Levee Breaks” no disco Led Zeppelin IV.

Para o segundo tomo, nota-se que há mais aqui a preocupação de encher chouriços com canções menores como “The Wanton Song”, “Down by the Seaside” ou “The Night Flight”. Ainda assim há momentos sublimes como a balada “Ten Years Gone” e a rocker “Sick Again”. Destaque também para o pequeno instrumental “Bron-Yr-Aur”, uma peça folk que sobrou das sessões do terceiro disco da banda.

Denota-se que há um certo desgaste a nível de ideias para composição. Algo que iria permear os discos seguintes, os desequilibrados Presence (1976) e In Through the Outdoor (1979). Daí que muitos considerem Physical Graffiti o último grande disco dos Led Zeppelin. Uma obra oriunda de um tempo em que o rock estava a começar a ficar aburguesado e as suas estrelas cada vez mais afastadas do público.