Com dois discos que estabeleceram um novo padrão na fusão de blues com rock pesado, os Led Zeppelin desdobram-se no seu terceiro disco, mostrando que também dominam o lado mais contemplativo da música.

Depois de passarem o ano de 1969 em tours frenéticas, a promover o seu primeiro disco de estúdio e a gravarem o segundo, os Led Zeppelin decidiram que mereciam algum descanso. No início de 1970, o grupo reuniu-se em Bron-Yr-Aur, uma casa do século XVIII, localizada no país de Gales, onde surgiram as sementes do novo disco. A banda deu precedência aos instrumentos acústicos e a uma sonoridade mais relaxada e contemplativa.

Led Zeppelin III não é, no entanto, o disco acústico dos Led Zeppelin e, como que para evitar essa conotação, o grupo decidiu começá-lo com o assalto de “Immigrant Song”. A música, alicerçada pelo riff titânico de Jimmy Page e a bateria viking de John Bonham, avança a uma passo tão frenético que a música nem tem direito a um solo de guitarra.

As coisas relaxam com os devaneios orientais de “Friends” mas não demora muito tempo até a banda voltar ao blues com “Since I’ve Been Loving You”, uma canção monstruosa que se tornaria uma presença obrigatória nos concertos do grupo, como a excelente versão imortalizada em The Song Remains the Same. Esta música mostra também uma maior sofisticação em termos dos arranjos, sofisticação essa que atingiu o seu pico no rock progressivo abrangente de Houses of the Holy de 1973.

O lado B do álbum, seguindo o exemplo do excelente Bringing It All Back Home de Bob Dylan, lançado cinco anos antes, é maioritariamente acústico e mostra uma faceta da banda que viria a ganhar mais importância nos anos seguintes quando os seus concertos começaram a incluir um mini set unplugged uns bons anos antes da MTV introduzir o conceito às massas. Desde a tradicional “Gallows Pole” à inesquecível “Tangerine” pescada de uma demo dos Yardbirds, Jimmy Page dá bom uso às suas capacidades de orquestração, com linhas de banjo e slide guitar entre outros instrumentos, a salpicar as músicas, conferindo-lhes uma personalidade que estaria ausente se o grupo se tivesse limitado a trocar os instrumentos elétricos pelos acústicos.

Mas não é só da luz que a alquimia dos Led Zeppelin é feita: “That’s the Way” e “Bron-Y-Aur” são canções que demonstram amplamente como menos pode ser mais, com os seus arranjos diretos e livres de pretensão. Numa homenagem tanto ao amigo Roy Harper como ao delta do Mississipi, “Hats Off to (Roy) Harper” consiste apenas numa guitarra slide e a voz distorcida de Robert Plant a parodiar os clichés mais absurdos do blues.

Led Zeppelin III mostra-nos uma banda em transição, a afastar-se do blues que a viu nascer e a expandir o seu leque sonoro, incorporando arranjos mais sofisticados e claramente a caminho de coisas maiores e melhores. Pode não ser tão icónico como os discos que imediatamente o sucederam e precederam mas é uma peça importante no puzzle que são os Led Zeppelin.