domingo, 23 de junho de 2024

The Beatles – Yellow Submarine (1969)

 

Com mais um filme sob contrato pela United Artists, os Beatles resolvem fugir ao modelo tradicional e deixam que sejam as suas caricaturas a fazer a representação. A banda sonora, só lançada no ano seguinte, é uma mistura de grandes êxitos psicadélicos e arranjos orquestrais de George Martin. A banda, essa, já estava bem longe da beleza e tranquilidade de Pepperland…

As palavras de Derek Taylor sobre o Álbum Branco num disco chamado Yellow Submarine já mostravam o momento em que os Beatles se encontravam. Bem afastados de Pepperland e da sua deliciosa viagem pelo submarino amarelo. O filme, lançado no ano anterior (1968), já pouco tinha a ver com a fase em que os Beatles estavam. Na altura a gravar o seminal e já referido Álbum Branco, já tinham passado pelo momento de meditação na Índia e já haviam largado as roupas e adereços festivos e psicadélicos. A ressaca dos ácidos tinha chegado e o resultado foi um álbum completamente despido de cores e efeitos especiais.

Em Janeiro de 1969, os Beatles lançam a banda-sonora de Yellow Submarine, num registo completamente anacrónico à sua fase, mas o disco vale, basicamente, pela inclusão de quatro novas músicas, já que as outras duas, “Yellow Submarine” e “All You Need Is Love” haviam sido anteriormente publicadas noutros discos. A outra metade do disco é formado pelas rendições orquestrais criadas pelo seu produtor de sempre, George Martin.

Em Yellow Submarine, George Martin divide, pela primeira vez, os créditos de um disco com a banda, o que lhe proporcionou, seguramente, um grande retorno financeiro. Nada que não fosse totalmente justo, dada a tremenda importância que o produtor teve nos Beatles desde sempre.

O disco vale essencialmente pelo lado A, segundo os velhos moldes do vinil. E quem brilha mais intensamente é George Harrison, com duas contribuições gravadas para possível inclusão em Sgt Pepper’s, mas deixadas de lado até Yellow Submarine. “Only a Northern Song” mostra George a dominar com mestria os teclados, destacando-se o Mellotron. É uma peça psicadélica, meio “tripante” e jazzy mas com algumas bicadas à dupla Lennon/McCartney, sócios maioritários da Northern Songs, empresa pela qual as músicas dos Beatles eram registadas. Como sempre, George era muito honesto nas suas letras. A cortar esta aura mais “ácida” (trocadilho intencional) surge “All Together Now”, música típica de McCartney, escrita ao estilo de música de crianças. Aparece tanto na versão animada dos Beatles como na parte final do filme onde os quatro de Liverpool surgem em carne e osso a trautear esta melodia quasi-infantil.

John Lennon aparece de seguida com uma das melhores músicas de Beatles que poucos conhecem. “Hey Bulldog” é rápida, com linha de baixo e bateria a marcar um groove pouco visto nas suas músicas. A letra é completamente nonsense e é recortada com uivos e latidos de Paul e John.

A quarta e última canção original é a cereja em cima do bolo. “It’s All Too Much” são seis minutos e 25 segundos de pura viagem psicadélica, pincelada por sons vibrantes, maiores que a vida, cheios efeitos e distorções. George Harrison a esmerar-se, uma vez mais, num disco que pouco significou para a banda, já lançada num estúdio de cinema a gravar o sucessor do White Album.

Yellow Submarine é tido como o disco menos imprescindível do grupo, se é que pode haver um disco de Beatles que o seja. No entanto, só mesmo a banda de Liverpool é que conseguia lançar quatro músicas originais de tamanha qualidade num disco que nem sequer tiveram que suar um gota só. Pode não ser essencial, mas tanto as músicas originais dos Beatles como a banda sonora de George Martin valem o esforço para completar a colecção de discos dos Fab Four.



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