terça-feira, 23 de julho de 2024

ALBUM DE POWER METAL PROGRESSIVO - Angra - Aqua (2010)


Continuamos com um pouco do melhor da música brasileira e continuamos com um pouco da história musical do Angra. Este é o sétimo álbum de estúdio, sendo a última gravação com Edu Falaschi nos vocais principais, e conta com o retorno do baterista Ricardo Confessori, que havia deixado a banda com Andre Matos e Luís Mariutti em 2000. O álbum foi baseado em "La Tempest" de William Shakespeare, com o elemento ‘água’ é um dos personagens principais da história, e a partir deste ponto, desenvolvem uma narrativa muito interessante que certamente atrairá a atenção de seus seguidores.

 

Artista: Angra
Álbum: Aqua
Ano: 2010
Gênero: Power metal progressivo
Nacionalidade: Brasil



Mais um trabalho dos brasileiros, na mesma linha de sempre, e como já falei para vocês, apesar de ser bom, o estilo me entedia um pouco pessoalmente. Mas o que eles fazem é maravilhoso, não é?

Então deixo um comentário de outro caso você queira se guiar pelo que o outro fala, e um vídeo para você ouvir. Bah, o de sempre...
Existem formações que têm algo especial. Bandas que, por qualquer motivo, chegam até você, transmitem sensações que outros não são capazes de transmitir. Grupos que com suas músicas conseguem despertar emoções em você cada vez que você as ouve. Existem bandas que têm uma aura especial, que têm alma. Angra é uma delas. Não há trabalho de brasileiro que não esbanje qualidade. Paixão e dedicação estão patentes e latentes em qualquer um dos seus álbuns.
Se olhar para trás, tenho que confessar que quando li o depoimento em que afirmavam que estavam separados há algum tempo, por alguns segundos fiquei sem palavras e pensando que não poderia ser verdade. O que poderia acontecer dentro desta banda que os faria pensar em sair por uma temporada? O que estava errado novamente em um combo que, como uma fênix, foi capaz de ressurgir das cinzas após o cataclismo que significou que a formação original foi quebrada? O que estava acontecendo em uma formação que foi capaz de criar álbuns tão magistrais como 'Rebirth' ou 'Temple Of Shadows'? …
Muita tinta se espalhou especulando sobre tudo isso durante os últimos quatro anos, que se o sucesso de 'Aurora Consurgens' não tivesse sido o que eles esperavam, que se tivessem problemas com a gravadora, que se houvesse desentendimentos entre os membros do grupo... Nunca saberemos a verdade e, para ser sincero, isso não importa mais, isso é história. Porque o Angra está de volta.
E eles voltaram como uma torrente. Com um álbum conceitual chamado 'Aqua'. Um título que, se analisado com atenção, pode levar a diferentes interpretações. A água em várias religiões é um elemento purificador, serve para se livrar da fase anterior da vida e embarcar em uma nova. Elimina todo o seu passado e deixa você livre e puro para embarcar em uma nova jornada.
Às vezes a água arrasta coisas e outras vezes deposita objetos aos seus pés. Se aplicarmos essa metáfora à banda, fica evidente que eles suavizaram arestas, deixaram para trás sua fase mais metal/progressiva e recuperaram mais uma vez seu som mais clássico, mais poderoso, com aquele toque brasileiro e tribal que tiveram nos primeiros discos, (tanto na fase Matos como na primeira parte da fase Falaschi), sobretudo na percussão.
Uma percussão que está mais uma vez nas mãos do impressionante Ricardo Confessori, membro fundador da banda, que ocupa a vaga deixada por Aquiles Priester. Assim como o ciclo de vida da água, Ricardo saiu da banda (evaporou) para iniciar novas jornadas e como se fosse chuva voltou com o Angra no melhor momento possível.
É também importante referir que é o primeiro álbum da banda totalmente produzido por si, um novo exemplo da renovação que a banda tem vivido e da vontade que têm de regressar fortes, tomando as rédeas do seu próprio destino. 'Aqua' em muitos aspectos significa deixar para trás elementos do passado e recuperar outros que uma vez desapareceram... Purificação… Renovação…
Como disse antes 'Aqua' é um trabalho conceitual. Um álbum que conta uma história. Uma história baseada na peça “A Tempestade” de William Shakespeare. Obra que narra as aventuras de Próspero, duque de Milão, que foi expulso de seu cargo por seu irmão Antonio e se encontra em uma ilha deserta após seu navio naufragar. Mas o que nem todos sabem, e aí vem outra metáfora, é que o autor nesta obra trata profundamente das relações familiares e da reconciliação.
Você lembra que no início desta crônica eu comentei o fato das divergências dentro da banda? E não é menos verdade que Ricardo Confessori deixou a banda junto com outros integrantes por divergências entre eles? . Hoje isso parece ter sido superado, talvez pelas lições do dramaturgo imortal?… Estou cada vez mais convencido de que nomear o álbum 'Aqua' tem sido um grande sucesso.
E focando no aspecto estritamente musical, o álbum não é desperdiçado. A introdução atmosférica, “Viderunt To Aquae”, leva você diretamente para a história antes de começar. Caos absoluto, gritos desesperados, som de ondas quebrando, lamentações... dão lugar ao single do álbum “Arising Thunder”. Encontramos nela poder, força e um grande refrão perfeitamente interligados nesta música épica. Uma amostra da coragem necessária para enfrentar uma tempestade que fará com que um navio se choque contra as rochas antes de afundar.
“Arising Thunder” se conecta com “Awake From Darkness”, outra boa música que começa com um sinal característico da banda, a percussão étnica. Uma faceta que parecia ter sido esquecida e que, para alegria de todos os seus seguidores, foi recuperada. “Awake From Darkness” – levantar-se das trevas – é uma música muito poderosa, que pretende transmitir o desejo de luta e a sede de vingança de Próspero após naufragar. Uma declaração completa de princípios.
E depois da tempestade vem a calmaria. “Lease Of Life” é a primeira delícia que encontramos nesta grande obra. Uma balada deliciosa que começa com um piano afinado na melancolia. A presença da bateria é constante ao longo da peça e a voz de Edu Falaschi nos envolve e nos transporta. Contratos...promessas de uma vida melhor...Lute, nunca desista...
Uma pausa antes de mergulhar novamente na virulência de “The Rage Of Waters”. Canção com muito caráter, executada com muita habilidade. Nessa música a base rítmica ganha destaque, com bateria e baixo maravilhosos na parte central da música e com um sabor brasileiro muito intenso. Menção especial para as guitarras de Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, únicas.
“Spirit Of The Air” é um mid-tempo em que podemos apreciar os refrões inconfundíveis que Loureiro e Bittencourt interpretam em Falaschi e que nos lembram o Angra original. Uma composição que pretende transmitir a preocupação da personagem e a tensão de viver continuamente atormentada. O solo de guitarra é excelente. “Hollow” é talvez a música mais progressiva do álbum. Palheta, melodia, talento, virtuosismo em abundância e um refrão para enquadrar. Mais uma vez excelentes refrãos e ótimo trabalho vocal de Edu Falaschi que transmite tristeza e angústia em partes iguais, tentando nos colocar na pele de Próspero.
Mas se tenho que me deter em algo dessa música, é na parte do violão espanhol que lembra a música popular brasileira. Ouro nos acordes. “Monstro nos olhos dela” mais uma vez nos traz de volta à calma. Seguimos sem baixar o nível das músicas, nada de novo, lindas melodias vocais e ótimo suporte instrumental.
“Fraqueza de um homem” é o segundo deleite desta grande obra. Uma bela composição apresentada com maestria pelo baixo de Felipe Andreoli. Guitarras acústicas que se entrelaçam com as eléctricas, a voz de Falaschi enquadrando-se perfeitamente com elas, refrões mais uma vez cativantes e tudo isto temperado com ritmos étnicos que rodeiam esta peça que por vezes evoca a mítica 'Terra Santa'. Música fenomenal que serve para dar lugar a “Ashes” e pôr fim a este tão aguardado álbum.
“Ashes” é uma música intimista onde o piano ocupa o centro do palco. Para mim, outra das jóias escondidas. Como em todo o álbum, Falaschi tem um desempenho maravilhoso e o acompanhamento feminino na parte central e final da música é uma verdadeira delícia. Composição emocional para encerrar o álbum. Embora ainda tenhamos um presente (se você conseguir a versão japonesa), já que aparece a décima primeira música “Lease Of Life”, a terceira música e talvez a melhor de todo o álbum, em uma versão diferente.
Não quero terminar esta crítica sem mencionar a arte do álbum. Excelente capa desenhada pelo ilustrador brasileiro Gustavo Sazes, que pela primeira vez se encarrega de dar imagem à música do grupo, continuando a ser, mais uma vez, mais um sinal de renovação. E não poderia ter feito melhor, pois conseguiu captar na capa a fúria de uma tempestade, simbolizada pela imagem do Deus Poseidon com as ondas quebrando e os relâmpagos trovejando ao fundo, uma prévia gráfica do que somos vou encontrar lá dentro.
A espera de quatro anos valeu a pena, já que o Angra lançou um álbum sublime. Agora é hora de curtir 'Aqua'. Os momentos ruins ficaram no passado, o tempo que decidiram dar um ao outro, as desavenças, os supostos problemas com a gravadora... E vendo o resultado final depois de tanta discórdia, não posso deixar de encerrar esta review parafraseando Shakespeare, criador de 'A Tempestade' e inspiração carioca para este álbum. E 'Tudo o que acontece, acontece'.
Óscar Aguirre Rodríguez
 
E parece assim...
 
 

Um álbum que resume um pouco toda a história musical da banda, com seções onde prevalecem o virtuosismo, os desenvolvimentos melódicos, a exploração e as incursões no mais clássico do power metal, tudo tem seu espaço e seu lugar, e se você gosta da banda, bem, você definitivamente vai gostar disso, eu imagino.

Pronto, que a Força esteja com você.
 
Você pode ouvir o álbum no seu espaço no Spotify:
https://open.spotify.com/intl-es/album/6QXaDDrmB1EYcEp7o67Szq


 
01. Viderunt Te Aquae
02. Arising Thunder
03. Awake From Darkness
04. Lease Of Life
05. The Rage Of The Waters
06. Spirit Of The Air
07. Hollow
08. A Monster In Her Eyes
09. Weakness Of A Man
10. Ashes
11. Lease Of Life (Remix)Lista de faixas:



Formação:
- Edu Falaschi / Vocal
- Rafael Bittencourt / Guitarra
- Kiko Loureiro / Guitarra
- Felipe Andreolli / Baixo
- Ricardo Confessori / Bateria


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