Ao terceiro disco, Jacco Gardner esquece as palavras e dá-nos uma viagem pelo seu mundo em modo ambiente. O percurso é satisfatório mas sabe a pouco.

O pequeno holandês, actualmente a viver em Portugal (quem não está nos dias de hoje?), já mostrou ser um nome a ter em conta na mais recente vaga psicadélica do início da década. O seu imaginário, bastante influenciado por Syd Barrett, fez-se sentir no seu disco de estreia, Cabinet of Curiosities, um dos discos do ano para o Altamont, no qual fizemos uma grande viagem pelo surreal e onírico. Dois anos após o seu primeiro trabalho, seguiu-se Hypnophobia, uma boa continuação daquilo que Jacco nos havia mostrado, tendo começado a explorar mais o lado instrumental.

No entanto, a grande surpresa veio este ano com Somnium, um disco totalmente instrumental e, acrescentamos, experimental. Mais que viagens surrealistas por florestas ou lagos, Jacco leva-nos a um mundo mais futurista e maquinal, onde se nota a influência do krautrock, especialmente de Tangerine Dream (“Rising”), Neu! (“Eclipse”) ou até de Mike Oldfield (“Privolva”). A falta de letras nas músicas faz com que este disco perca em comparação com os trabalhos anteriores. É um bom álbum de experimentação mas faz muita falta a voz de Jacco a guiar-nos por viagens que nos faziam lembrar os nossos tempos de criança.

Ao contrário de Endless River dos Pink Floyd, praticamente todo instrumental, onde a música e os arranjos fazem o necessário para nos sentirmos no universo Floyd e não precisarmos propriamente da música cantada, em Somnium sentimos um certo abandono de Jacco. Esperamos que da próxima vez não nos abandone num chalé na floresta apenas com os instrumentos ligados…