O ser “extra-vibracional” estreia-se no mundo da alta-fidelidade e o resultado não podia ter sido mais glorioso.

Lucas Nathan, mais conhecido pelos melómanos por Jerry Paper, pertence a uma já longa linha de iconoclastas que encontraram na internet, um público esfomeado pela sua pop oblíqua e conceptual. Desde os acordes de sintetizador almofadados que formam a base de Fuzzy Logic, um disco onde quase se consegue ouvir o pijama, até ao jazz orgânico de Toon Time Raw! (uma curiosidade para os mais desatentos: os instrumentais deste disco foram todos tocados pelos BadBadNotGood sob o nome Easy Feelings Unlimited), o californiano nunca parou de procurar e experimentar o novo, mantendo a sua personalidade desajeitada e idiossincrática.

Com o selo da Stones Throw, conhecida maioritariamente pelo seu repertório de hip-hop underground, Like a Baby o seu novo disco, encontra na editora uma casa perfeita, dadas as inclinações experimentais de ambos. “Your Cocoon”, o primeiro single do álbum, envereda, no entanto, por território familiar. O pijama ainda lá está, debaixo da voz arrastada de Nathan que, em certas ocasiões, entra em modo crooner, mas sem pretensões de ser um Sinatra do século XXI. As novidades surgem sob a forma de pequenas mas preciosas colaborações, como as vozes de Charlotte Day Wilson, Weyes Blood e Mild High Club que salpicam algumas músicas do disco e contribuições instrumentais de Matty Tavares, dos BadBadNotGood, que co-produziu o álbum.

“A Moment” desenrola-se a um ritmo vertiginoso, relativamente aquilo que o músico nos habituou ao longo dos últimos 6 anos. Os acordes de teclado ainda têm as texturas caseiras mas as linhas melódicas fogem ao previsível e as quebras frequentes da música, aliadas a um maravilhoso e demasiado breve solo de flauta tornam esta música num mini caleidoscópio de surpresas. Segue-se a balada etérea “Something’s Not Right” cujos timbres foram resgatados diretamente de um qualquer álbum de Vangelis e reaproveitados numa atmosfera pop. Completando esta trindade, “Did I Buy It?”, um hino McCartneyesco esfrega na cara do ouvinte a melodia mais orelhuda do disco; mas esta não ficaria completa sem um solo de guitarra que contém em si toda a personalidade de Jerry Paper: jazzístico, desajeitado e, muito provavelmente, roxo por dentro.

Like a Baby oferece-nos uma atualização do som cocktail lounge de Jerry Paper, agora em gloriosa alta-fidelidade. É bom ver que o seu primeiro disco numa editora de maior dimensão não diluiu nem um pouco a sua magia ou a sua ambição. Enquanto existirem fãs de música pop idiossincrática, Jerry Paper estará cá para a entregar.