“É preciso violar as regras, sim, mas para as violar é preciso conhecê-las. (…)
(…) É preciso conhecer as regras, sim, mas para as conhecer é preciso violá-las.
É preciso regular as violações, sim, mas para as regular é preciso conhecê-las. (…) ” *

28 de Outubro de 1977. Neste dia, a Grã-Bretanha paria o álbum mais incendiário que até então se ouvira. Verdadeiro sucesso comercial, chegou rapidamente ao topo dos charts Britânicos, alcançando o ouro apenas duas semanas após o seu lançamento. Mas coexistiriam pacificamente a mais espúria das bandas e a fleuma gnómica burguesa? A pergunta é retórica. Deixemo-nos de ladainhas. Falo-vos do Never Mind the Bollocks, here’s the Sex Pistols. Comecei esta crónica com a data do lançamento do álbum. Seguindo a liturgia destas coisas, seguir-se-ia uma detalhada descrição do magnífico percurso da banda x (introduzir aqui, aleatoriamente, um nome) e tinha a resenha feita. Mas falamos dos Sex Pistols. Não há cânone que lhes resista. Tudo deve ser desconstruído, mastigado, cuspido, pisado e varrido.

Do lançamento do álbum, à dissolução da banda, passaram apenas dois meses. Mas a lenda começa antes. Muito antes. Com efeito, a história dos Pistols está a montante do lançamento do seu registo. Os Pistols são tudo aquilo que destruíram. Bem sei que não basta decretar que se vai fazer tábua rasa do passado para alcançar esse desiderato. É difícil mudar os hábitos, as mentalidades e, muitas vezes o espírito resiste onde sente mais necessidade de uma revolução. A ideia de tudo apagar, de demolir as próprias ruínas para recomeçar do zero, para pensar e construir de maneira totalmente nova foi o leitmotiv que guiou o conjunto inglês.

Se tamanha audácia não foi totalmente atingida devo dizer, em boa verdade, que tentaram e conseguiram, pelo menos, agitar as àguas da muy nobre monarquia britânica. O lastro infame que deixaram foi assinalável: As bravatas niilistas à respeitabilidade burguesa; Os insultos a Bill Grundy, em 1976, em directo na BBC; A t-shirt dos Pink Floyd envergada por Johnny Rotten rasurada com as palavras “I hate”; o concerto no rio Thames, organizado por Malcolm McClaren, numa clara bravata à Monarquia; o nasty couple Sid & Nancy; entre muitas outras bragues que muita tinta fez correr na imprensa da época.

Quanto ao álbum propriamente dito, ele é o espelho de tudo o que aqui se disse. A fúria vertiginosa em que se lançaram Johnny Rotten (vocais), Steve Jones (guitarra e baixo, na maioria dos temas), Sid Vicious (que participou apenas num dos temas) e Paul Cook (bateria), não teve paralelo na história da música até então. Temas menos “apressados” que o dos seus congéneres transatlânticos Ramones, mas incomparavelmente mais agressivos e lascivos. Querem exemplos? Oiçam “God Save the Queen”; “Anarchy in U.K” e “No Feelings”.

*Excerto de um poema de Paul Éluard, poeta dadaísta.